“Internacional Manteve a Invencibilidade!A FALTA DE TÉCNICA NO GRE-NAL FOI COMPENSADA PELA COMBATIVIDADE DOS JOGADORESCom o clássico Gre-Nal do foot-ball porto-alegrense, encerrou-se ontem o campeonato do ano em curso. As tradicionais dependências do “fortim” da Baixada apanharam, por esta ocasião, uma grande assistência, que as lotou completamente, em que pese a tarde cálida, que não animava o afeiçoado deter-se várias horas sob um sol causticante.Não obstante, o velho campo da Baixada reviveu uma de suas horas mais animadas; pois o público, presente, como dissemos, em grande número, manteve-se sempre entusiasta e vibrante.O match em si, como soe acontecer nos confrontos entre as equipes do Grêmio e do Internacional, não foi dos mais brilhantes, no que tange ao aspecto técnico. Mas não faltou combatividade aos jogadores, de modo que, em momento algum, o cotejo entrou em monotonia.O E.C. Intenacional, que já ingressou em campo, com as honras de campeão, indiferente ao resultado do Gre-Nal, logrou triunfar mais uma vez, fechando assim com chave de ouro sua temporada oficial, durante a qual não sofreu nenhuma derrota. Encontrou ontem no Grêmio um adversário bem mais capacitado do que, no fundo, calculava; mas, mesmo assim, galgou bem o obstáculo, completando sua campanha com mais uma vitória, justa, sem dúvida, e merecida; tanto mais que seu adversário, superando-se a si mesmo, mais que lhe dignificou a conquista.De fato, o Grêmio, que vinha de uma decepcionante derrota frente ao Cruzeiro, capacitou-se de sua responsabilidade, como participe nato do mais importante choque do foot-ball porto-alegrense, e, se bem não tenha conquistado a vitória, reabilitou-se em parte, atuando bem melhor do que nas vezes anteriores. Mormente sua defensiva, sem embargo das vezes que foi vencida, se constituiu num sector bastante sólido e eficiente, considerando-se ainda que atuou sem dois titulares: Orli e Pipoca. Pôde assim o quadro tricolor impor séria resistência aos comandos de Bodinho, fazendo que as ações durante grande parte da contenda se equilibrassem e desta maneira emprestassem ao clássico uma feição emocionante.O Internacional fez jús á vitória particularmente por duas circunstâncias: contou além de uma defesa soberba e coêsa, com uma linha, que se bem menos brilhante, muitas vezes mesmo tolhida pelo adversário, foi suficiente prática para aproveitar as excassas opôrtunidades que se lhes ensejaram. E nisso vai o melhor elogio de um sector que encontrou difícil barreira pela frente mas, que a despeito disso, ainda fez prevalecer sua classe, construindo um triunfo laborioso, todavia brilhante.Os primeiros cinco minutos do embate caracterizaram-se pelo equilíbrio das ações: ambos bandos alternaram-se na ofensiva, ensaiando estabelecer o primeiro predominio territorial. Numa de suas investidas, o Internacional marcou, mas o juiz anulou o tento por estar Jeronimo, seu autor, em posição ilegal. Sucedeu-se um período breve de mais insistência do Grêmio na ofensiva; mas o Internacional revidou energicamente, colocando em sério perigo o arco de Sérgio. Houve então uma fase de indecisão, durante a qual os dois teams não conseguiam firmar-se no ataque, em face do melhor trabalho das defensivas. A partir do 20º minuto, o Internacional passou a apresentar mais agressividade, controlando melhor as ações e ameaçando mais amiudamente o último reduto tricolor. Aos 32 minutos, Canhotinho,de pois de fintar Mirão, desejou atirar violentamente ao arco; mas falhou e o arremate se converteu num passe a Jeronimo, que recém ingressara na área: o insider encheu o pé e surpreendeu Sérgio, cujo salto sobre a bola foi tardo: estava marcado o primeiro tento da partida:Internacional .. .. .. .. . 1Grêmio .. .. .. .. .. .. .. 0Depois da conquista desse goal, quando se acreditou que o Grêmio reagiria, viu-se pelo contrário, mais animado e tranquilo, o Internacional a aumentar o seu volume de ações, procurando a todo pano consolidar a vantagem com novo tentoDesta maneira, o restante do período pertenceu nitidamente aos rubros, cuja dianteira contudo, não obstante o maior número de investidas, não conseguia suplantar a vigilância dos defensores da Baixada.Entretanto, aos 41 minutos, originou-se uma confusão diante do arco do Grêmio: Solis e Bodinho dela se aproveitaram, para alvejar, mas, em ambas oportunidades o couro foi devolvido, sendo que na segunda vez pelo arqueiro Sérgio, defendendo parcialmente: a bola derivou para a esquerda, onde Canhotinho, entrando oportunamente, entre dois defensores gremistas, logrou impulsionar a bola para dentro do arco estabelecendo o escore definitivoInternacional .. .. .. .. . 2Grêmio .. .. .. .. .. .. .. 0
No segundo período, viu-se o Internacional ainda predominando nas jogadas, durantes os primeiros minutos; mas a seguir o Grêmio repontou um pouco e carregou com alguma insistência sobre a área colorada. Nada de prática porém faziam os dianteiros do Grêmio, que não coordenavam as tramas, deixando-se desarmar pelos rubros com relativa facilidade. Camacho e Paulinho, ainda no início dessa etapa, machucaram-se, retirando-se ambos por alguns instantes da cancha. O atacante gremista contudo não mais conseguiu recuperar-se. foi deslocado para a ponta, onde passou a fazer mera figura. Jogou o Grêmio assim praticamente o restante do match com apenas dez homens válidos.Podia por isso o Internacional, valendo-se dessa circunstância, assenhorar-se definitivamente do terreno e das ações, impondo ao adversário duro castigo. A dianteira colorada, porém, cada vez mais dominada pelos tricolores, não colaborou o suficiente para isso: de modo que o match foi-se arrastando, já agora com o Internacional mais preocupado em fazer passar o tempo, e conservar a vantagem inicial, do que mesmo alardear sua superioridade técnica.Era virtualmente impossível, de resto, ao Grêmio, recuperar o terreno perdido; seu quinteto avançado já era uma peça nula, mas inoperante ficou depois que Camacho resumiu sua atividade a intervir em lances esporádicos .O foot-ball, que já não era dos melhores, com Internacional agora a conformar-se com os 2×0 e o Grêmio impossibilitado de reagir, decaiu ainda mais; e teria resvalado definitivamente para a completa pasmaceira, não fosse a ação enérgica e laboriosa de alguns elementos, que não deixaram o jogo “morrer” de todo.Não se registrou porém nenhum contraste nessa segunda fase, findando o match com o placard da fase inicial: 2×0, pró Internacional.Ao terminar o cotejo, os jogadores, dando bonita demonstração de cavalheirismo, abraçaram-se amigavelmente, encerrando-se assim com exemplar cordialidade mais uma página do clássico eterno: o Gre-Nal.[…]Foi juiz do prélio o sr. Fortunato Tonelli, que em geral marcou bem as faltas, com erros de pequena monta. As vezes, querendo resguardar sua autoridade, excedeu-se nas repreensões, desagradando a torcida e os jogadores. Mas conseguiu levar a bom termo sua espinhosa missão.“Na preliminar, bateram-se os quadros de aspirantes das duas agremiações. Alardeando grande superioridade técnica, os rapazes do Grêmio levaram a melhor, por um escore que não refelete sua inconteste supremacia nas jogadas: 1×0 […] Ao encerrar-se o match, demonstrando cabalmente o inconveniente, injustificavelmente não repremido, de soltar rojões em campos de foot-ball, um deles estourou junto às vistas de um player gremista, somente por grande sorte não se registraram consequências lamentáveis.” (Folha da Tarde Esportiva – 2 de novembro de 1953)
Fotos: Folha da Tarde Esportiva – 2 de novembro de 1953
Grêmio 0x2 Internacional