
Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)
O confronto entre Grêmio e Flamengo pela semifinal da Copa do Brasil de 1995 registra o quinto maior público pagante do tricolor como mandante na história da competição (só fica atrás das finais de 1989, 1994, 2016 e do Gre-Nal de 1992).
O grande interesse da torcida por esse jogo pode ser atribuído a vários fatores. Vale lembrar que esse foi o primeiro ano que o SBT exibiu a Copa do Brasil. A transmissão dos jogos em horário nobre por Sílvio Luiz & Cia certamente ajudou a alavancar o prestígio do torneio.
Também é importante lembrar que o Flamengo havia contratado Romário no início de 1995 e na semana anterior havia anunciado Edmundo. Os auto-intitulados “Bad Boys” formariam, juntamente com Sávio, o famigerado “Melhor ataque do mundo”. Contudo, só Sávio atuou em Porto Alegre. O “Baixinho’ estava lesionado e o “Animal” já havia jogado na Copa do Brasil pelo Palmeiras.
Mas creio que o principal fator de entusiasmo dos gremistas era a a própria campanha do tricolor na competição, tendo superado Palmeiras e São Paulo para chegar na semifinal (enquanto o Flamengo, de maneira bastante suspeita, havia tido um caminho bem mais fácil)
O Grêmio precisava de um 1×0. E conseguiu o 1×0. Num cruzamento que terminou com uma tabela entre Paulo Nunes e Jardel (foto abaixo).
O detalhe lendário/folclórico desse jogo é a briga entre os técnicos Luis Felipe Scolari e Vanderlei Luxemburgo aos 32 minutos do segundo tempo, após as expulsões de Roger e Mauricinho. Luxa afirmou ter recebido um soco do treinador gremistas, enquanto Felipão alega ter somente empurrado o seu oponente.

Foto: Julio Cordeiro (Zero Hora)
“O herói Jardel dedica o gol ao amigo Magno
Herói do Grêmio nos jogos da semifinal da Copa do Brasil, o centroavante Jardel foi um dos jogadores mais festejados pelos torcedores ao final da partida no Olímpico. Emocionado, o artilheiro vibrou muito junto á torcida e fez questão de dedicar o gol decisivo para o ata-cante Magno, que se lesionou no jogo do Rio de Janeiro. “Eu tinha prometido ao Magno e, felizmente, pude cumprir a minha palavra”, disse o goleador.
Mas a festa não foi somente de Jardel. A vitória sobre o Flamengo foi muito comemorada no vestiário gremista. Jogadores e dirigentes eram uma só alegria. O presidente Fábio Koff destacou a união de todo o grupo que soube novamente superar os problemas e também agradeceu o apoio do público. “Com a força desta torcida, seremos novamente campeões”, afirmou o presidente.
O zagueiro Adilson, um dos jogadores mais sérios e ponderados do grupo, desta vez não escondia e emoção pela vitória. Improvisado como volante, Adilson comentou que a equipe não fez uma partida excepcional, mas alcançou o resultado desejado. “Todos estão de parabéns”, resumiu o zagueiro. O volante Goiano enfatizou a garra como fator fundamental.
Passada a euforia inicial, a comissão técnica do Grêmio começa a partir de hoje a projetar primeiro jogo contra o Corinthians, no dia 14. Sem Dinho e Arílson, o técnico Luiz Felipe não terá também o lateral Roger, que foi expulso e cumprirá suspensão. “Teremos que adaptar o Scheidt ou Carlos Miguel na posição, mas ainda é muito cedo para definir isto” analisou o treinador. No sábado, o time reserva joga em Pelotas.” (Zero Hora – 1º de junho de 1995)
“TÉCNICOS TROCAM OFENSAS
Longe das câmeras da televisão, aos 33 minutos do segundo tempo, houve incidente entre os técnicos Luiz Felipe (Grêmio) e Wanderley Luxemburgo (Flamengo). Luxemburgo disse que foi agredido pelo treinador gremista. “Fui dizer a ele que um jogo não é uma guerra, mas o Luiz Felipe comprovou que é um mau caráter e me agrediu no queixo e no peito, reclamou. “Hoje acredito quando dizem que ele manda bater”, disse Luxemburgo. Luiz Felipe rebateu: “Naquela agressão do Mauricinho contra o Goiano, Luxemburgo me chamou de marginal, palhaço, que o meu time era um bando de louco”, disse. “Bando de louco são eles, e o Luxemburgo passa por bonzinho”. “Eu não aguentei as ofensas e só dei um empurrão, mas se já estou sendo rotulado de marginal, deveria ter dado um soco”, ressaltou.
Luxemburgo elogiou o estilo do Grêmio e acha que o time gaúcho será campeão, mas deixou claro que não é mais amigo de Luiz Felipe. “Não estou preocupado com isso”, completou o técnico gremista, agora preocupado com a raça do Corinthians” (Zero Hora – 1º de junho de 1995)” Coluna do Falcão*
MÉRITOS PARA JARDEL[…]
No ataque, o Grêmio só tinha uma jogada: o centro alto para Jardel. E exagerou nela. Muitas vezes, levantava do meio do campo, em vez de procurar urna zona mais adequada, entre a lateral e a área. O principal marcador de Jardel acabou sendo o goleiro Roger, que com as mãos só podia mesmo levar a melhor. No segundo tempo, porém, o Flamengo resolveu ficar atrás e facilitou a execução da jogada preferencial do Grêmio, em cima de fardel. Recuando, permitiu a bola alçada de perto da área, com mais direção e mais preparada para a conclusão do centroavante, Jardel, aliás, voltou a ser o jogador mais importante do Grêmio, porque é nele que se concentra sempre a esperança de gol. E isso é o que ele melhor sabe fazer, pois é objetivo, tem boa colocação na área e sabe aproveitar o mínimo vacilo dos zagueiros. Foi assim que garantiu ontem a vitória que deixa o Grêmio a um Corinthians do seu terceiro título na Copa do Brasil.” (*Depoimento a Nilson Souza, Zero Hora, 1º de junho de 1995)
“Alexandre mudou a história do jogo no segundo tempo
O reserva Alexandre, número 16, mudou a cara do jogo. Depois de um primeiro tempo confuso, com poucas jogadas de ataque, o Grêmio voltou modificado para os 45 minutos decisivos. Cansado e sem ritmo, o titular Carlos Miguel foi substituído e o time cresceu de produção. As facilidades dos cariocas começaram a desaparecer e, aos poucos, o Grêmio foi ganhando confiança. Aberto pelo lado esquerdo, Alexandre passou a preocupar o lateral Marcos Adriano e, principalmente, o treinador Wanderley Luxemburgo. Logo nos primeiros minutos da etapa final, a mudança já mostrava a diferença. Alexandre pegou a bola, partiu para o ataque e foi derrubado, por trás, pelo talentoso Marquinhos, que merecidamente ganhou o cartão amarelo. O Grêmio, a partir deste momento, entrou no jogo. Alexandre passou a ganhar as jogadas, a ir ao fundo do campo e a acertar os cruzamentos. Alexandre mostrava confiança e infernizava o sistema defensivo dos cariocas. A torcida sentiu que o time estava bem melhor e fez o seu papel, apoiando até mesmo nos raros lances errados, O Flamengo sentiu a pressão, cedeu campo e o Grêmio soube explorar este detalhe. Passou a pressionar insistentemente, sempre sob o coman-do de Alexandre, que chamava as jogadas e levava vantagem sobre os adversários, Na metade do segundo tempo, ia com o domínio técnico, o Grêmio fez o que mais necessitava. Marcou o gol, através de Jardel, aproveitando um descuido dos zagueiros. Como já era esperado, o Flamengo partiu desesperadamente em busca do empate. E, a partir deste momento, Alexandre foi mais importante. Prendeu a bola. cavou faltas e continuou jogando em busca do ataque. Seu comportamento tático somente se. alterou aos 33 minutos. com a expulsão do lateral Roger. Sem possibilidades de realizar substituições. Luiz Felipe pediu para Alexandre cuidar do setor e ele não decepcionou, Brigou pela bola, deu chutões e ajudou o Grêmio a chegar mais uma vez à decisão da Copa do Brasil.” (Zero Hora – 1º de junho de 1995)

Foto: Fernando Gomes (Zero Hora)
Felipão em entrevista à Revista Placar:
“WANDERLEY LUXEMBURGO: “Ele me deu um murro no jogo Grêmio x Flamengo pela Copa do Brasil lá em Porto Alegre. Estava louco”
A RESPOSTA: “Não dei um soco. Eu o empurrei com as duas mãos, porque ele disse que eu era maluco por mandar bater nos adversários” (Placar, Edição n.º 1.107 – Setembro de 1995)

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)
“FUTEBOL DO RIO ELIMINADO DA COPA DO BRASIL
Flamengo perde de 1 a 0 do Grêmio e Vasco retorna cabisbaixo de São Paulo
[…]
A lamentação do técnico Vanderlei Luxemburgo deu a tônica no vestiário do Flamengo. “Com chutões para frente ninguém chega a lugar nenhum. Deveríamos ter mantido a tranquilidade do primeiro tempo”, reclamou Vanderlei, que disse ter sido agredido pelo técnico gremista, Luis Felipe, durante a confusão no segundo tempo que resultou nas expulsões da Roger e Mauricinho.
Sávio era o mais revoltado e não poupou críticas ao árbitro Márcio Rezende de Freitas. “Nem conseguia pegar na bola. Sempre que ela chegava, levava uma pancada” lamentou.
Como era de se esperar, o jogo começou com o time gaúcho tentando sufocar o Flamengo em seu próprio campo, perdendo uma boa chance logo aos 5 minutos, com Jardel e Paulo Nunes. Passada a pressão inicial, o Flamengo equilibrou e passou a tocar a bola inteligentemente. Willian aos 14, e Marquinhos aos 22, assustaram o goleiro Danrlei, mas a melhor chance apareceu aos 35, quando Branco deixou Willian na cara do gol. O meia chutou forte, mas por cima.
No segundo tempo, o Grêmio veio pra cima e o Flamengo, inexplicavelmente recuou dando campo ao adversário. O goleiro Roger ainda fez duas excelentes defesas, mas o gol não demorou: aos 23 minutos, Rivarola cobrou falta, Jardel cabeceou para Paulo Nunes, que dentro da área, devolveu a bola. O atacante do Grêmio chutou quase da pequena área e fez 1 a 0. A partir daí o Flamengo acordou e ainda tentou uma reação. Aos 47, Sávio recebeu livre da direita, trocou de perna e chutou em cima de Danrlei, que fez ótima defesa.” (Jornal do Brasil – 1º de junho de 1995)

Foto: Roberto Santos (Correio do Povo)
“Torcida empurra o time para a suada vitória
[…]
Os gremistas lotaram, literalmente, o estádio, com capacidade para 51 mil torcedores. Animados, entoavam gritos de guerra e fazia ola, dando mostrar da força do 12º jogador. Do lado de fora, já com a bola rolando, uma multidão se aglomerava nos portões, ainda na esperança de assistir ao espetáculo.
[…]
O time suportou o primeiro tempo, mas muito recuado, acabou sofrendo o gol no segundo, quando a torcida esteve ainda mais inflamada. Difícil saber se a disposição do time em campo incendiou as arquibancadas ou vice-versa.” (Jornal dos Sports – 1º de junho de 1995)

Foto: Zero Hora
Grêmio 1×0 Flamengo
GRÊMIO: Danrlei; Arce, Rivarola, Luciano e Roger; Adílson, Gélson, Luis Carlos Goiano e Carlos Miguel (Alexandre Xoxó); Paulo Nunes e Jardel (Nildo).
Técnico: Luis Felipe Scolari
FLAMENGO: Roger; Marcos Adriano, Jorge Luis, Gelson Baresi e Branco (Henrique); Charles, Fabinho (Mauricinho), Marquinhos e William; Mazinho e Sávio.
Técnico: Wanderley Luxemburgo
Copa do Brasil 1995 – Semifinal -Jogo de volta
Data: 31/05/1995, Quarta-feira, 20h45min
Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre, RS.
Público: 58.205 (48.905 pagantes)
Renda: R$ 477.997,00
Juiz: Márcio Rezende de Freitas-MG
Auxiliares: Marco Antonio Martins e Marco Antonio Gomes
Cartões Amarelos: Arce, Luciano, Gelson, Branco e Marquinhos
Cartões Vermelhos: Roger (Grêmio) e Mauricinho, aos 32 do 2ºT
Gol: Jardel, aos 23 minutos do segundo tempo
P.S.: Na versão anterior do texto eu havia afirmado que Silvio Luiz estava na transmissão do jogo na TV. O Edu Cesar, com propriedade, lembrou que em 1995 Silvio Luiz ainda não estava no SBT. O narrador principal de equipe formada por Silvio Santos era o Luiz Alfredo