
Foto: Mauro Vieira (Zero Hora)
No Brasileirão de 1997 o Grêmio venceu o Criciúma por 1×0, graças a um golaço do centroavante Guilherme no final da partida.
Acho que os jornais da época foram um pouco preciosistas ao descrever a conclusão como uma “puxeta”
Bonita a frase feita pelo técnico Hélio dos Anjos: “Não podemos viver em função de sonhos”.

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)
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“O DIA EM QUE O GRÊMIO EXORCIZOU UM FANTASMA
O time de Hélio dos Anjos errou nas conclusões, mas Guilherme marcou aos 43 minutos finais, espantou o perigo do rebaixamento a conduziu a equipe ao 12º lugar no campeonato
Os últimos minutos da vitória de 1 a 0 não, perderam em nada para restantes finais da decisão do Campeonato Brasileiro contra a Portuguesa, no ano passado. Nas arquibancadas, os torcedores, desesperados, praguejavam o árbitro Sidrack Marinho dos Santos e pediam o final do jogo. Na pista atlética, os reservas e os integrantes do departamento médico gesticulavam com as mãos implorando pelo último apito. O goleiro Silvio, e o preparador físico Francisco Gonzalez já haviam dispensado os gandulas de perto da casamata e assumido a tarefa de repor a bola em campo. Os gremistas sofreram durante 88 minutos. Até que Guilherme, em uma bonita puxeta finalmente sepultou as ameaças de rebaixamento que pairavam sobre o Olímpico.
O Grêmio teve ontem à tarde todos os ingredientes para finalmente acabar com a má fase que atormentou as suas últimas semanas. O sol brilhou e deixou o domingo perfeito para o futebol A torcida compareceu em bom número e disposta apenas a apoiar. E o Criciúma… Bem, o Criciúma foi um time medíocre, sem força ofensiva. Os atacantes parecem tem ojeriza por jogar na área adversária. Mas o primeiro tempo do Grêmio não ficou muito longe da mediocridade. O time criou poucas chances para marcar. A principal delas, aos 12 minutos, caiu nos pés de Zé Alcino. Como tem se repetido, Zé Alcino acertou em cheio o goleiro. Aos 42, Dinho bateu falta e forçou Jeferson a uma difícil defesa. O primeiro tempo foi isso. A torcida, atendendo aos apelos do presidente Luiz Carlos Silveira Martins, Cacalo, apenas aplaudiu
No segundo tempo, entretanto, o Grêmio mostrou vigor e encurralou o Criciúma. O centroavante Flávio conseguiu encostar na bola só aos 35 minutos. Em compensação, Jéferson saiu de campo extenuado pelo excesso de trabalho. O Grêmio chutava de perto, de longe, de fora da área, e nada. O fantasma do rebaixamento parecia perturbar. Guilherme, na frente do goleiro, chutou por cima. Beto se ajoelhou e pediu ajuda divina.
Até o gol de Guilherme, aos 43 minutos, os torcedores não desistiram. Na saída do estádio, houve carnaval no estacionamento. O vestiário superlotou com empolgados conselheiros e dirigentes, que colocaram o Grêmio entre os candidatos à classificação às finais. “Não podemos viver em função de sonhos”, definiu Hélio das Anjos.” (Leonardo Oliveira, Zero Hora, segunda-feira, 20 de outubro de 1997)

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)
“O PRESIDENTE CACALO RETOMA O DIREITO DE SORRIR
Ele andara devorando caixas e caixas de bombom de tanta ansiedade. Engordo, corria até risco de ficar manco. Os problemas do clube do coração, que empilhava insucessos e agora estava diante do fantasma do rebaixamento, lhe consumiam por completo, até o impediam de fazer fisioterapia. Em Montevidéu, depois da derrota para o Peñarol por 3 a 2 e mais um fracasso, desta vez na Supercopa, sequer conseguiu concluir uma entrevista para o repórter Sérgio Boaz, da Rádio Gaúcha. Encobriu o rosto com as mãos e chorou. Mas ontem foi o dia de o presidente Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, um gremista até a medula, daqueles de se virar de costas para o campo quando o seu time está sendo pressionado, voltar a sorrir. “Eu não agüentava mais ouvir falar em rebaixamento”, admitiu Cacalo no vestiário festivo depois da vitória suada sobre o Criciúma.
Imagine-se então como o presidente ao jogo de ontem, das cabines do Estádio Olímpico. Caminhava de um lado a outro, passava as mãos nos cabelos em desalinho e se virava de costas. Destilava rios de suor, uma marca registrada sua em momento do Grêmio, seja contra o Ajax, da Holanda, ou contra o Kabure, No momento do gol pulou feito um endemoniado, ignorando as recomendações de funcionários pata evitar excessos. “Vamos terminar o ano com dignidade, graças a Deus, porque ninguém consegue ganhar todos campeonatos que disputa”, desabafou, como se retirasse das costas um fardo de uma tonelada. “A torcida me ouviu e ajudou até o fim, que lindo isso, que lindo”, sorria, embevecido ao ver o torcedor cantando outra vez, ao contrário das vaias e críticas que já se incorporavam ao cotidiano tricolor. Em vez do presidente cabisbaixo, triste e se explicando por mais uma derrota, Cacalo voltou a ser o dirigente de oratória fácil, das frases de efeitos, das alfinetadas, da ironia, como sempre fez nos dias de glória nem tão distante.
Agora, para pensar só em 1998 e esquecer de vez o segundo semestre de 1997, resta ao Grêmio escapar do fantasma do rebaixamento também na Supercopa. Lanterna do Grupo 4, com três pontos, precisa vencer o Estudiantes, quarta-feira, no Olímpico.” (Zero Hora, segunda-feira, 20 de outubro de 1997)

Foto: Valdir Friolin (Zero Hora)
“GRÊMIO VENCE E SAI DA ZONA DE RISCO
Drama acabou no belo gol de Guilherme, quase ao final da partida contra o Criciúma. Afastado o fantasma do rebaixamento
O fantasma do rebaixamento já não assusta mais o Grêmio. A vitória dramática sobre o Criciúma, por 1 a 0, ontem à tarde, no Olímpico, deixou o time com 28 pontos, afastando a angústia que já tomava conta de todos.
O primeiro tempo foi de dar pena. Precisando vencer, o Grêmio conseguiu apenas um arremate em jogada trabalhada. Foi aos 13 minutos, quando Zé Alcino recebeu de Sérgio Manoel, mas demorou muito a concluir, chutando sobre a zaga. A outra chance foi numa falta, quando Dinho concluiu forte, para boa defesa de Jéferson. De resto, o Grêmio foi um time sem criatividade. Dinho errou muitos passes, Zé Alcino não escapou nunca da marcação e Guilherme teve pela frente um zagueiro de ótima colocação, o jovem Fábio.
O Grêmio empurrou o Criciúma para trás no segundo tempo. Aos 9 minutos, Guilherme chutou por cima, quase na pequena área. A produção foi maior a partir da entrada de Tinga e Gilmar. Sérgio Manoel perdeu boa chance aos 18 minutos. Quando o empate parecia consumado, Arce cruzou, Rivarola ajeitou de cabeça e Guilherme, de puxeta, terminou com o desespero gremista: 1 a 0. O jogo já tinha 43 minutos.” (Correio do Povo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997)

“CLUBE PROJETA 98 E PASSA A BUSCAR ACIONISTAS
Grêmio já começa a projetar o próximo ano. Márcio Bolzoni, atual diretor de futebol, poderá ter mais poderes, assumindo inclusive a vice-presidência, conforme se especulava ontem à tarde. O clube buscará reforços para a lateral direita e a zaga,dado o afastamento de Arce e Rivarola, a serviço da seleção paraguaia na Copa da França. “O Grêmio Seguramente terá reforços”, informa o vice-presidente, Dênis Abrahão.
Carlos Biedermann, vice-presidente de Finanças, estima um prazo de seis meses para que seja adotada a idéia de clube-empresa. “Vamos colocar cotas no mercado, reservando ao clube a maior parte das ações”. Aos acionistas, será oferecida participação no passe de jogadores e de outros bens que integrarão o chamado ativo da empresa.
O presidente Luiz Carlos Silveira Martins vai insistir para que dois empresários passem a auxiliá-lo mais diretamente a partir de 98. Ricardo Vontobel, que já foi vice de Marketing, teve reunião reservada com Cacalo no fim de semana e poderá retornar ao cargo. Marcos Hermann, de Tintas Renner, foi abordado pelo presidente na saída do vestiário, após a partida, ouvindo o seguinte recado: “Preciso conversar contigo esta semana”.
Mais aliviado, o técnico Hélio dos Anjos desabafou: “Se eu não continuar no Grêmio, certamente estarei trabalhando num outro clube dia 3 de janeiro de 98”. Outra vez, Cacalo não garantiu a permanência do atual treinador para o próximo ano.” (Correio do Povo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997)

Foto: Mauro Vieira (Zero Hora)
“O JOGO: O Criciúma neutralizou o Grêmio no primeiro tempo. Mudanças efetuadas pelo técnico Hélio dos Anjos deram resultado na etapa final e os gaúchos saíram do sufoco que era a ameaça de rebaixamento. Vitória sofrida, comemorada como decisiva pelos gremistas.” (Tabelão Placar, Ano 1997, n.º 10)
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“GOL NO FINAL SALVA O GRÊMIO
Guilherme marcou aos 43 minutos do segundo tempo e garantiu triunfo contra o Criciúma, ontem
Porto Alegre – Com um gol marcado no final da partida, o Grêmio venceu ontem o Criciúma e livrou-se da ameaça de rebaixamento. Guilherme converteu aos 43 minutos da segunda etapa. Agora, o atual campeão brasileiro alcançou os 28 pontos. Surpreendentemente, a equipe ainda mantém, embora remotíssimas, chances de classificação.
O Grêmio partiu logo para a pressão, mas encontrou um Criciúma fechado na sua retaguarda. Zé Alcino voltou a errar gols e o jogo se complicou com o passar do tempo.
Só aos 17 minutos do segundo tempo, com as substituições de Dinho e Zé Alcino por Tinga e Gilmar, respectivamente, o Grêmio cresceu em campo e passou a buscar o gol com maior insistência. Depois, Hélio dos Anjos ainda colocou outro atacante, Dauri.
O gol ocorreu quando o empate parecia definido. Arce acionou o zagueiro Rivarola, que tocou para Guilherme. Ele girou e marcou 1 x O, provocando suspiros de alívio no estádio.” (Pioneiro, segunda-feira, 20 de outubro de 1997)

Foto: Mauro Vieira (Zero Hora)

GRÊMIO: Danrlei; Arce, Rivarola, Ronaldo e Roger; Dinho (Tinga), Djair, Beto e Sérgio Manoel (Dauri); Zé Alcino (Gilmar) e Guilherme.
Técnico: Hélio dos Anjos
CRICIÚMA: Jéferson; Jomar, Fábio, Augusto e Biro; Marcão, Manco Aurélio, Humberto (Magno) e Adíl; Magno Alves (Leandro) e Flávio Guarujá (Marcelo Rocha)
Técnico: Pepe
Brasileirão 1997 – Primeira Fase
Data: 19 de outubro de 1997, domingo, 17h00min
Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre, RS
Público: 12.408 (9.571 pagantes)
Renda: R$ 61.215,00, para
Juiz: Sidrack Marinho dos Santos
Auxiliares: Eriberto Pessoa e Roberto Braatz