
O primeiro jogo entre Grêmio e Barcelona de Guayaquil aconteceu em 16 de janeiro de 1954, na excursão que o tricolor fez ao México, Equador e Colômbia no final de 1953, início de 1954.
O Grêmio venceu por 2×1, com gols de Mujica e Sarará. Me pareceu curioso que os relatos disponíveis sobre a partida tenham tido impressões discrepantes em relação a atuação dos atletas. O Diário de Notícias considerou que “O zagueiro Pipoca […] voltou a impressionar”, enquanto o jornalista Edison Pires, da Folha da Tarde, afirmou que “Pipoca que teve fraca partida, pois abandonou a área e levou uma saranda de Matuti“
Mais engraçado foi a justificativa do mesmo Edison Pires para não emitir opinião sobre o lance do pênalti para o Barcelona, dizendo teve sua visão “impedida neste lance por um “gordão“‘
“Na noite de 16 de janeiro, a esquadra tricolor, ao se despedir do Equador, em Guaiaquil, venceu o Barcelona, vice-campeão local, por 2 x 1.
A equipe gremista iniciou a partida com Wilson no arco, em lugar de Sérgio, perante cérea de 10.000 pessoas.
As ações velozes se alternaram, distinguindo-se a precisão dos passes dos gaúchos que, no inicio, não tiveram maior êxito nos arremates finais à meta dos anfitriões. Enquanto isso, o conjunto do Barcelona compensou seu menor poderio de jôgo empregando a velocidade.
Aos 37 minutos do primeiro período, o ponteiro Mujica, aproveitando-se de uma saída em falso do goleiro local, abriu a contagem a favor dos gremistas. Faltando dois minutos para terminar a fase inicial ,entrou na cancha Sérgio em lugar de Wilson, e Camacho em lugar de Tesourinha, enquanto que Matute substituiu Vargas, no Barcelona, no inicio da segunda fase.
Nesse curto período final de ações da primeira parte da partida passou a equipe visitante por maus momentos para, logo após ser concluída a fase com o resultado parcial de 1 x O.
A representação do Grêmio viu-se constantemente acossada pela rapidez do jôgo do Barcelona, o que trouxe e partida maior dose de interêsse e um futebol mais colorido. O cansaço, porém, começou a esgotar os jogadores, efetuando-se continuas substituições nas duas equipes.
O Grêmio, assim mesmo pressionava enquanto o Barcelona via-se a salvo de três corners consecutivos. Finalmente, aos 27 minutos, o centromédio Sarará elevou a vantagem dos gaúchos no marcador e êstes, pouco a pouco, foram assenhorando-se do terreno. Quando faltavam oito minutos para terminar a contenda, sôbre Trivino. Matute cobrou e marcou o tento de honra dos locais. Os últimos minutos da partida foram movimentadíssimos quando continuou manifesta a superioridade do quadro do Grêmio. O prélio foi dirigido pelo juiz Rafael Guerrero Parker, que empregou muito rigor ao dar o pênalte marcado contra o Grêmio.” (Revista Super Grêmio nº 3)
“GUAIAQUIL, 17 (United) – A equipe do Grêmio Pôrto Alegrense, Brasil, despediu-se, ontem, dos gramados equatorianos, derrotando o Barcelona, pela contagem de 2 a 1, perante cêrca de 10.000 pessoas.
Dessa maneira, o quadro brasileiro conseguiu pasar in invicto nesta sua temporada em campos locais, pois, antes havia, vencido o Emelec tambem por 2 a 1.
O esquadrão gremista voltou a brindar o publico equatoriano com uma ótima exibição de futebol “association”, arrancando aplausos da massa de torcedores, Noronha e Sarará surgiram como as grandes figuras da equipe visitante, notadamente o veterano médio Noronha, que se constituiu num espetaculo à parte. O zagueiro Pipoca, igualmente, voltou a impressionar. Na ofensiva dos visitantes, o “insider” Muijca apareceu como sua principal figura, seguido de Itamar.”
(Diário de Notícias – 19 de Janeiro de 1954)
“As 21 horas local, saímos para o campo com o fim de enfrentar o quadro do Barcelona, apontado aqui como o derrubador de campeões. O prélio somente teve início às 10 horas da noite, ou seja, meia noite no Brasil. Nosso quadro alinhou com Vilson, tendo Sérgio entrou nos últimos minutos do primei-ro tempo devido Vilson ter se machucado. Os demais da defesa foram Pipoca — Altino — Roberto — Sarará e Noronha. Esses jogadores de nossa defensiva vêm jogando todas as partidas. No ataque figuraram Tesourinha, substituído no final do primeiro tempo por Camacho, em vista de nosso ponteiro ter-se contundido, Mujica e Victor cuja posição ainda Ca-macho ocupou no segundo tempo, Itamar, que também figurou na ponta direita, quando Camacho foi para o centro do ataque, Alvim na meia esquerda e Torres que foi para a ponta esquerda, no segundo tempo. O Barcelona formou com Delgado; Sanchez e Henrique; Solis — Alume e Solorzano — Larraz —Cantos (depois Merlsalde e mais tarde Cantos), Balseca — Vargas (depois Matuti e mais tarde Vargas) e Trivino. O juiz Rafael Guerreiro Parker, teve boa atuação, falhando no penalti de Pipoca, pois a bola, segundo nossos reservas que estavam próximos ao lance, bateu na mão do zagueiro quando este estava cercando Matuti. Nada posso afirmar, pois minha visão foi impedida neste lance por um “gordão” que me barrava. Devo destacar Sérgio, que estêve superior a Vilson, no arco; Altino superou Pipoca que teve fraca partida, pois abandonou a área e levou uma saranda de Matuti. A linha média foi o ponto alto, como vem sendo em todos os encontros, figurando Noronha em plano superior. No ataque devemos destacar a atuação de Mujica, seguido de Alvim, Victor e Camacho, Os ponteiros estiveram fracos na noite de ontem. No Barcelona, Sanchez foi um dos grandes esteios da defensiva apesar de seu companheiro de setor, Solorzano, apresentar-se como autêntico espetáculo da cancha. No ataque Larraz e Matuti mostraram ser jogadores de notáveis recursos técnicos, com rara visão do arco, acompanhados no mesmo nível por Cantos. Com essa partida assinalamos dez compromissos em campos estrangeiros com o dissabor de apenas uma derrota, fronte ao quadro do Atlanta mexicano numa jogada que a ninguém convenceu, pois a atuação do juiz foi calamitosa e tendenciosa a favor do adversário. A moral do esquadrão gremista é elevadíssima, entrando os tricolores em campo sempre para vencer. Vamos 3a. feira para a Colômbia onde realizaremos duas ou três partidas, dependendo de negociações. Os jogos deverão ser realizados na capital, Bogotá. A delegação pretende embarcar a 31 para os pagos.” (Edison Pires, Folha da Tarde Esportiva)
Fontes: Diário de Notícias, Revista Super Grêmio nº 3 e Folha da Tarde Esportiva
Barcelona de Guayaquil 1×2 Grêmio
BARCELONA: Delgado; Henriquez e Sanchez; Solís, Alume e Solorzano; Larraz, Cantos (Merizalde), Balseca, Vargas (Matute) e Trivino
GRÊMIO: Wilson (Sérgio Moacir); Pipoca e Altino; Roberto, Sarará e Noronha; Tesourinha (Camacho), Mujica, Vitor, Alvim, Itamar (Tôrres).
Técnico: Telêmaco Frazão de Lima
Data: 16 de janeiro de 1954, sábado, 22h00min (hora local)
Local: Estadio George Capwell
Árbitro: Rafael Guerrero Parker
Gols: Mujica aos 37 minutos do 1º tempo, Sarará aos 27 minutos e Matuti (de pênalti) aos 37 minutos do 2º tempo