A ordem do dia da reunião do Conselho Deliberativo de 6 de abril de 2022 era a seguinte:
“- Em convocação ordinária:
1. Apreciar o relatório do Presidente do Grêmio;
2. Tomar conhecimento do parecer do Conselho Fiscal;
3. Tomar conhecimento do parecer da Comissão para Assuntos Econômico-Financeiros;
4. Julgar as contas do Conselho de Administração referentes ao exercício de 2021;
5. Eleger e empossar 02 (dois) Conselheiros Fiscais, com mandato de 03 (três) anos. A inscrição da chapa para o Conselho fiscal terá início dia 19/03 e findará em 25/03 e deve ser entregue diretamente no Conselho Deliberativo do Clube.– Em convocação extraordinária:
1. Homenagem Conselheira Ema Tereza Facchin Coelho de Souza”
De início foi feito a homenagem à Dona Ema, que fez um discurso de agradecimento sucinto, mas muito bonito, no qual ressaltou como se sentia realizada como gremista.
Em relação as contas de 2021, o presidente Romildo Bolzan fez uma rápida introdução, acrescentando que o ano de 2022 será “um desafio enorme” em razão da queda de receitas. A apresentação do relatório do exercício de 2021 foi feita pelo CEO, Carlos Amodeo, que exibiu em slides um material um pouco mais amplo do que o publicado no portal de governança. Eu achei preocupante que houve uma queda de mais de 17% no número de sócios na comparação de com 2020, combinado com uma queda de quase 25% na arrecadação do quadro social (foi adiantado que houve uma leve recuperação no número de sócios no primeiro trimestre de 2022).
Após foi feita a leitura do parecer do Conselho Fiscal, no qual se afirmou que “os investimentos no futebol não vem refletindo na performance do time nas competições” e do relatório da Comissão de Finanças, no qual é manifestada a preocupação com “a qualidade do gasto executado em 2021“.
Quando a palavra foi colocada a disposição para manifestação do plenário um conselheiro (jubilado), discursou longamente, encerrando sua manifestação dizendo que os demais deveriam aprovar as contas “com um voto de louvor“. Outro conselheiro fez manifestação semelhante, afirmando que o resultado apresentado era “para ser aplaudido“. Simplesmente surreal. Eu acho que seria possível apontar para aspectos positivos nas contas de 2021 sem precisar usar de um discurso que beira o lunatismo. Da mesma forma, não me parece que o recorrente argumento de que “em anos anteriores se fez/se aprovou coisa pior” seja algo que resulte em melhora/crescimento do clube.
Mas até aí dá pra considerar que esse tipo de coisa faz parte do processo democrático. Inaceitável foi a postura de um conselheiro que ficou resmungando, tentando interromper e/ou atrapalhar aos gritos, toda e qualquer manifestação minimamente crítica a gestão. Esse mesmo conselheiro já havia tomado atitude parecida em reunião anterior e a Mesa Diretora só pediu para ele ficar em silêncio quando a sessão se encaminhava pro fim.
Uma vez que o uso do vôos fretados foi uma das justificativas para os gastos elevados de 2021 eu perguntei se essa política seria mantida para a série B. O CEO respondeu dizendo que não, que o clube estava usando somente vôos comerciais e que estava buscando reduzir o máximo os gastos nas viagens. Da mesma forma, tendo em vista que em 31 de março foi enviado aos conselheiros uma “nominata atualizada dos conselheiros jubilados com direito a voto e a sua respectiva data de nomeação” eu questionei quando os nomes ali indicados foram ratificados pelo Conselho Deliberativo (conforme determina o §1º do artigo 63-A do Estatuto). O Presidente Biedermann esclareceu que esses nomes ainda não foram submetidos a ratificação pelo conselho.
Acho válido destacar algumas manifestações de conselheiros. O Conselheiro Eduardo Magrisso lembrou que o Grêmio evoluiu muito em termos de governança, mas alertou para o fato das reuniões de aprovação da suplementação e das contas de 2021 terem sido realizadas fora de prazo. O conselheiro Roger Ritter questionou sobre a previsão de apresentação dos trabalhos de uma consultoria sobre governança (sobre a qual os conselheiros responderam um questionário no início de 2021). O conselheiro Bruno Carvalho pediu maior atenção para as dificuldades que os torcedores que frequentam a arquibancada norte acabam sendo submetidos (baixo número de portões de acesso e a questão da biometria). O conselheiro Daniel Follmann afirmou que os conselheiros tem a prerrogativa de analisar os números de 2021 de maneira global. Afirmou que era possível fazer uma comparação com os gastos e consequentes resultados esportivos de outros grandes clubes brasieliros e por último perguntou se houvesse necessidade de suplementação orçamentária para 2022 quando ela seria submetida ao conselho. O presidente Romildo Bolzan afirmou que, em 2022, havendo necessidade será feita uma “readequação” ao longo da temporada.
Como já se sabe as contas foram aprovadas. Ao meu ver, a aprovação da suplementação, em dezembro, após a ocorrência dos gastos, de certa maneira significou uma aprovação antecipada das contas do exercício 2021. Como novamente não foi apresentada justificativa concreta para a demora na apresentação da suplementação, acabe sendo um dos que votou contra a aprovação. Julgo válido dizer que uma minoria dos conselheiros que votou pela aprovação achou oportuno aplaudir o resultado da votação (o que pra mim é meio descabido).
– Achei interessante que o executivo de Marketing Beto Carvalho reconheceu, antes de fazer a sua apresentação, necessidade assumir um erro, pois considera que faltou uma conexão entre torcida e clube nos últimos anos.
– Eu diria que menos de 20% dos presentes estavam usando máscara. Nenhum dos vice presidentes e/ou diretores (que convivem com os atletas) estava de máscara.
Preciso dizer que tentei começar esse post diversas vezes. Isso porque o sentimento em relação a falar e escrever sobre o conselho é muito parecido com sentimento de integrar o conselho: um exercício de total futilidade. A sensação é que tudo que é dito, que qualquer crítica ou sugestão feitas por conselheiros são completamente ignoradas. As coisas são decididas através de inúmeras outras relações. O fato de existir um órgão, de representação dos sócios, com prerrogativas e responsabilidades estabelecidas no estatuto é quase que encarado como uma inconveniência, um contratempo. Ainda assim, decidi escrever por duas razões: 1) pois já tinha assumido o compromisso (comigo mesmo) de tentar falar mais sobre o que acontece no conselho; 2) Na ínfima esperança de isso servir, de algum maneira, como alerta ou esclarecimento para quem pretende atuar dentro do conselho deliberativo.