Depois de transcorridos os 180 minutos dos dois jogos finais do Gauchão 2014 não há qualquer sombra de dúvida que o Inter mereceu vencer esta final do campeonato. Ganhar ou perder é do jogo. Não foi e muito provavelmente não será o último troféu estadual que o Grêmio vê terminar nas mãos do seu tradicional adversário. Mas muito mais grave do que ter um título a mais ou a menos na lista de estaduais foi o placar final desse último jogo. Principalmente pela forma que ele foi construído.
Diante do resultado elástico poderíamos e deveríamos nos perguntar: O que o Inter fez de tão extraordinário que justificasse uma vitória de 4 gols sobre seu grande rival? E é muito difícil responder essa questão sem deixar de mencionar o que o Grêmio deixou de fazer. Assim como ocorreu nos 45 minutos finais do jogo de ida, o time de Enderson Moreira marcou muito pouco. Praticamente assistiu o adversário jogar. No começo do jogo o tricolor até teve alguma iniciativa ofensiva, ganhando algumas bolas no ataque, acumulando faltas no lado do campo, rondando a área de Dida e tendo algumas conclusões, ainda que desajeitadas. O problema estava no momento em que o time não tinha bola. Havia um perceptível espaçamento entre o meio de campo e linha de defesa tricolor. Um buraco na frente da área gremista que deixava a zaga totalmente exposta. Todo e qualquer bola do Inter, mesmo as que eram rifadas pela defesa colorada, entravam fácil pelo meio da defesa azul. Quando o 0x0 começou a parecer um placar bom para ser levado ao intervalo o Grêmio sofreu o gol. E sofreu de maneira ridícula, em um balão que picou na intermediária do campo de ataque colorado, e depois disso Werley se atrapalhou e entregou a bola para Rafael Moura. O centroavante colorado aguardou a chegada de D´alessandro, que abriu o placar com um chute rasteiro de pé direito.
Havia ainda tempo para uma recuperação. O time poderia ser ajeitado no intervalo, os problemas do Grêmio pareciam claros. Além do já mencionado buraco na frente dos zagueiros havia o fato de que o time era pouquíssimo combativo na marcação e
assim realizava poucos desarmes. Mas o treinador optou por tentar dar mais uma opção ofensiva para seu time, retirando um dos poucos jogadores que poderia ocupar a cabeça de área sem posicionar ninguém no seu lugar. Como era de esperar o retorno do time para o segundo tempo foi patético. Em poucos minutos o Grêmio levou mais um gol que causaria revolta até em time de várzea. O Inter aproveitou o momento e começou a trocar passes no ataque, entrando como bem entendesse na área de Marcelo Grohe, e assim marcou o 3º e 4º gols. A grande prova da total falência da atuação gremista está no fato de que Alex, um jogador de desempenho sofrível desde que retornou a Porto Alegre, foi o grande destaque da jogo, atuando como volante e marcando dois gols. No final o Grêmio até conseguiu marcar um gol, que de forma alguma poderia se chamado de “gol de honra”, uma vez que o time seguiu atuando de forma bisonha.
Podemos analisar a derrota pelo que aconteceu nos 90 (ou 180) minutos da final. Mas o mais correto me parece ser analisar o cenário como um todo. E esse cenário é bem preocupante. O Inter tem o presidente da federação, o narrador, o comentarista e quem mais for preciso ao seu lado. Escolhe o calendário (contra quem, onde e como quer jogar), escolhe o juiz,
escolhe a legislação na Assembleia, e escolhe até mesmo a música que o torcida gremista pode ou não cantar. O Grêmio não pode continuar a se preparar somente na véspera para um confronto que ele crê ser igual. Por que ele é já desigual (e por vezes desleal) muito antes da bola rolar.
Márcio Chagas, que virou personagem da semana Gre-Nal pelos motivos errados, foi mal na partida. Falhou no aspecto disciplinar (que ele mesmo considera tão importante), e teve marcações bem equivocadas. Algumas induzidas pelos seus assistentes (como a bola que não saiu pela linha de fundo logo no começo do jogo, ou a inversão da falta em Wendell na origem do segundo gol colorado) outros todos seus (como o pênalti não marcado para o Grêmio quando o placar já estava 4×1). Curioso foi ver o ex-juiz comentarista de arbitragem defendendo esses erros mesmo quando a imagem insistia em desmentir sua versão. O bom (ou triste mesmo) é que ainda que levemos em conta todas essas questões somos obrigados s concluir que o resultado não passa nem de longe pela arbitragem.
Agora resta esperar pela reação do Grêmio frente a esse revés. Por que, pela forma pela qual aconteceu, é impossível que essa derrota não se torne um divisor de águas (para o bem ou para o mal) na temporada 2014 do tricolor.
Fotos: Marcelo Campos (MC10) e Lucas Uebel (Grêmio.net)
Internacional 4×1 Grêmio 
INTER: Dida; Gilberto, Paulão, Ernando e Fabrício; Willians, Aránguiz, Alex (Juan, 39/2ºT), D’Alessandro (Jorge Henrique, 41/2ºT) e Alan Patrick (Ygor, 24/2°T); Rafael Moura
Técnico: Abel Braga
GRÊMIO: Marcelo Grohe; Pará, Werley, Rhodolfo e Wendell; Edinho (Maxi Rodríguez, int.), Ramiro, Riveros, Alán Ruiz (Léo Gago, 14/2ºT) e Dudu; Barcos
Técnico: Enderson Moreira
Final – Jogo de volta – Campeonato Gaúcho 2014
Data: 13 de abril de 2014, domingo, 16h00min
Local: Estádio Centenário, em Caxias do Sul-RS
Público: 17.424 (15.815 pagantes)
Renda: R$ 665.230,00
Arbitragem: Márcio Chagas da Silva
Auxiliares: Marcelo Barison e Julio Cesar Santos
C. Amarelos: Fabrício, D’Alessandro; Barcos, Edinho, Riveros, Léo Gago
Cartões Vermelhos: Willians e Pará (aos 37 minutos do 2º tempo)
Gols: D’Alessandro, aos 26min do 1° tempo; Alex, aos 4min, Alan Patrick (de pênalti), aos 10min, Alex, aos 12min, e Ernando (contra), aos 21 minutos do 2º tempo