
Foto: Armênio Abascal (Zero Hora)
Na estreia do Brasileirão de 1981, o Grêmio foi a Goiânia e ficou no 0x0 com o Goiás. A escalação daquela tarde era um tanto diferente da fase decisiva da competição. De León só estrearia com a camisa tricolor na rodada seguinte e Tarciso estava negociando a renovação do seu contrato.
Essa foi a primeira vez que o Grêmio enfrentou o Goiás no Serra Dourada.

Foto: Armênio Abascal (Zero Hora)
“GRÊMIO TEVE UMA ESTRÉIA MUITO FRACA
O time mostrou erros em diversos setores e foi envolvido pelo Goiás
A estréia do Grêmio na Taça de Ouro foi decepcionante para os torcedores porque a equipe se apresentou completamente desorganizada, principalmente no meio-de-campo. O empate sem gols foi um prêmio injusto para a equipe de Ênio Andrade porque o Goiás dominou grande parte do jogo, criando várias chances de gol. Só não venceu porque Leão fez pelo menos três excelentes defesas, constituindo-se no melhor jogador da partida. Os reforços precisam ser imediatamente incorporados ao, time porque para uma equipe que pretende ser campeã do Brasil, o Grêmio tem só o desejo.
A desculpa do cansaço pela viagem à Argentina e a demora para chegar a Goiânia poderiam servir de justificativa se a equipe terminasse o jogo esgotada. Não foi assim: os erros do Grêmio foram táticos e técnicos do princípio ao fim do jogo. A equipe de Paulo Emílio impôs-se com um futebol rápido, de tabela, triangulações e bons deslocamentos. Exatamente o que faltava ao Grêmio.
No primeiro tempo ficou evidente o desentrosamento entre China, Plein e Renato Sá, pois entravam afoitos na jogada, erravam passes, eram driblados e permitiam o confronto direto dos meias-canchas do Goiás com a zaga ou os laterais. China ainda conseguiu melhorar um pouco quando saiu para jogar, mas Plein e Renato Sá foram péssimos.
As jogadas aconteciam pelo meio, facilitando o desarme por parte de Matinha, Paulo Roberto ou Luvanor. O Grêmio não teve saídas pelas laterais e Dirceu e Casemiro ficaram quase sempre na marcação e assim mesmo, driblados constantemente. Vantuir e Vicente, no choque direto levaram algumas desvantagens mas Leão estava lá atrás para garantir o empate.
REAÇÃO
O Goiás mostrou o bom trabalho de Nonoca, pela lateral direita, que além de marcar Odair, sempre apoiou com perigo. Argeu dominou Baltazar na base do empurrão e no choque, ficando Alexandre Neto na sobra. Marcelo teve pouco trabalho com Vergara porque este fez poucas jogadas. Paulo Roberto, em boas tabelas com Luvanor, mais os deslocamentos de Ramon e as jogadas de Marco Antonio pela direita foram os melhores.
Se no primeiro tempo o Goiás gastou energia jogando rápido, naturalmente cansou um pouco. Na etapa final permitiu uma reação do Grémio que passou a acionar mais Odair e Vergara, conseguindo quatro oportunidades em doze minutos. Mas houve falta de objetividade e conclusões ruins.
No primeiro tempo o Goiás teve cinco boas chances, principalmente com Paulo Roberto, Luvanor, Ramon e Nonoca. O Grêmio, apenas uma, com Plein, no final. Na segunda etapa, as conclusões mais perigosas foram do Goiás, que teve a melhor aos 21 minutos, quando Ramon, pelo meio (o centroavante Gerson Lopes foi substituído por César), driblou a zaga e na saída de Leão jogou para fora. Depois, aos 28, Luvanor obrigou Leão a uma bela defesa, repetindo uma jogada de perigo aos 43 minutos.
Ênio Andrade colocou Jurandir e Vilson Tadei aos 30 minutos, um pouco tarde para mudar o jogo. No Goiás, a entrada de Carlos Alberto no lugar de Paula Roberto, também pouco alterou o jogo. De qualquer forma ficou evidente que Ênio Andrade terá muito trabalho para arrumar uma boa equipe, que seja competitiva para poder chegar às finais.” (Júlio Sortica, Zero Hora, segunda-feira, 19 de janeiro de 1981)
“OPINIÃO: O Goiás fez ama partida extraordinária confirmando o bom prestígio que goza a nível nacional. Apático, o Grémio cedeu espaços consideráveis ao time da casa.” (Placar)
“GRÊMIO 0X0 GOIÁS
Goiânia — Em jogo corrido e bem disputado, Goiás e Grêmio empataram de 0 a 0, ontem, no Estádio Serra Dourada O time goiano começou melhor, mas o Grêmio equilibrou a partida a partir dos 15 minutos iniciais, destacando-se a atuação de Leão, que em duas oportunidades evitou que o time gaúcho tomasse gol.
Na primeira, Ramon, depois de driblar vários jogadores, entrou livre e ficou sem ângulo para o chute. Na segunda, Luvanor tocou por cobertura, mas Leão, mesmo deslocado, pois a bola bateu num dos zagueiros, saltou para trás e tocou para escanteio.
O juiz Roberto Nunes Morgado, auxiliado por Jefferson de Freitas e Benedito Gonçalves. Renda de Cr$ 2 milhões 101 mil, com público pagante de 21 mil 632 pessoas.” (Jornal do Brasil, segunda-feira, 19 de janeiro de 1981)

Foto: Armênio Abascal (Zero Hora)
“ÊNIO ANDRADE RECONHECE AS FALHAS DA EQUIPE
O Grémio não realizou uma boa partida e foi dominado pelo Goiás em grande parte do tempo. E o treinador Ênio Andrade foi o primeiro a admitir as falhas da equipe, considerando-se por isso mesmo muito satisfeito com o empate que o clube conseguiu na estréia na Taça de Ouro. Bem que ele procurou corrigir alguns erros, como explicou depois do jogo:
— No intervalo orientei os jogadores, especialmente no meio-campo, para os problemas que enfrentamos e as causas. Do ponto de vista defensivo, nossa falha era dar muita liberdade ao Paulo Roberto, um jogador habilidoso. Além disso, o meio-campo não estava explorando o Odair com os lançamentos que ele sabe aproveitar tão bem. E no segundo tempo as coisas realmente melhoraram bastante.
Ênio Andrade admitiu também que as substituições feitas na equipe — Jurandir e Vilson Tadei entraram nas posições de Plein e Renato Sá — é que acabaram equilibrando a partida e reduzindo o domínio do Goiás. “Minha idéia foi colocar o Jurandir para melhorar a marcação e o Vilson Tadei para fazer a armação, pois o Plein e o Renato Sá estavam um pouco cansados”. E, na realidade, o pior problema do time foi mesmo as condições físicas deficientes, além das ausências de jogadores importantes:
— Não se pode esquecer que estamos sem dois jogadores extremamente úteis à equipe, o Tarciso e o Paulo Isidoro. E o time sente bastante. Na quarta-feira, jogando no Olímpico e já podendo contar com o Tarciso, tenho certeza que a equipe melhora muito, também Porque teremos três dias de descanso e de treinos.” (Júlio Sortica, Zero Hora, segunda-feira, 19 de janeiro de 1981)
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“EROÍNO LEMBROU O CANSAÇO
Tanto o técnico Ênio Andrade como a maioria dos jogadores do Grêmio lembraram que o condicionamento físico foi o fator principal que prejudicou a atuação da equipe. Nessas condições, o preparador físico do clube é quem deveria estar preocupado mas Eroíno Machado sabia que os comentados sobre o condicionamento dos jogadores não significavam uma crítica ao seu trabalho:
— Todos sabem que enfrentamos problemas que alguns times não tiveram — explicou Eroíno. Começando pelo jogo que disputamos na Argentina e, para completar, as viagens que esgotam a todos e nos tiram tempo que poderia ser aproveitado para treinamentos. O Goiás, assim como muitos outros clubes, apenas treinaram em suas cidades, enquanto o Grêmio desgastou-se.
Eroíno garantiu que quarta-feira no Estádio Olímpico, o rendimento físico da equipe será bem melhor, assim como conseguiu lambem perceber algum progresso do primeiro para o segundo jogo do ano. “Para mim, o time esteve melhor aqui em Goiânia do que em Mar Del Plata e isso que aquela partida foi disputada à noite e hoje (ontem) os jogadores correram no sol e com uma temperatura de 35 graus. Quer dizer, se houve progresso nestas condições, vamos melhorar muito na próxima partida”. (Júlio Sortica, Zero Hora, segunda-feira, 19 de janeiro de 1981)

Foto: Armênio Abascal (Zero Hora)
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“LEÃO VAI DISCUTIR HOJE A PROPOSTA DO INDEPENDIENTE
Foram quatro defesas difíceis em toda a partida disputada ontem no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, mas suficientes para transformar o goleiro Leão no melhor jogador do Grêmio. Em consequência, o time conseguiu passar sem derrota pelo seu primeiro jogo oficial deste ano, num resultado que todos consideraram satisfatório, já que o Grêmio ganhou um ponto sem chegar a merecer o 0 a 0.
Na saída do campo, Leão parecia um pouco contrariado: “Do ponto de vista pessoal eu estou realmente satisfeito — disse o goleiro — mas não se pode esquecer que mais importante é a atuação coletiva da equipe e ela não foi boa”. Leão justificou essa afirmação dizendo que “o Goiás teve mais consciência das dimensões do campo, correndo nos momentos certos, enquanto o Grêmio cansou um pouco, pois correu demais no primeiro tempo”.
Quando saía do gramado, Leão até ouviu a brincadeira do repórter João Garcia, da Rádio Gaúcha, que o lembrou de que sua atuação dispensava outros argumentos no encontro que terá hoje com o vice-presidente de futebol Rafael Bandeira dos Santos — nesse encontra Leão e Bandeira discutem a proposta do Independiente da Argentina: ou o goleiro e mesmo negociado ou recebe uma compensação financeira do Grêmio.
E a proposta do clube argentino é realmente excepcional Cr$ 49 milhões para o Grêmio, Cr$ 12 milhões de luvas para o goleiro que receberá ainda Cr$ 70 mil por jogo, Cr$ 1 milhão e 200 mil mensais, casa, telefone e um carro. Essa proposta será oficializada ainda nesta semana por Pedro Isso, presidente do Independiente, que viaja a Porto Alegre e tenta contratar Leão.” (Júlio Sortica, Zero Hora, segunda-feira, 19 de janeiro de 1981)

Foto: Armênio Abascal (Zero Hora)
Goiás 0x0 Grêmio
GOIÁS: Amauri; Nonoca, Argeu, Alexandre Neto e Marcelo; Matinha, Paulo Roberto (Carlos Alberto Santos 35 do 2ºT) e Luvanor; Marco Antônio, Ramón e Gérson Lopes (César 15 do 1ºT)
Técnico: Paulo Emílio
GRÊMIO: Leão, Casemiro, Vicente, Vantuir e Dirceu; China, Plein (Jurandir 32 do 2ºT) e Renato Sá (Vilson Tadei 32 do 2ºT); Vergara, Baltazar e Odair.
Técnico: Ênio Andrade
1ª Rodada – 1ª Fase – Campeonato Brasileiro 81
Data: 18 de janeiro de 1981, domingo
Local: Estádio Serra Dourada, em Goiânia-GO
Público: 21.632 pagantes
Renda: Cr$ 2.101.400,00
Juiz: Roberto Nunes Morgado – SP
Auxiliares: Jefferson de Freitas e Benedito Gonçalves
Cartões Amarelos: Paulo Roberto e Plein