
Foto: Zero Hora
No primeiro Gre-Nal do Gauchão de 1977, o Grêmio venceu o Inter por 3×0 no Olímpico. Como pode ser vistos nos anúncios da Federação Gaúcha, a partida foi válida por uma rodada de clássicos da primeira fase da competição. O detalhe é que o tricolor atuou com dez jogadores, desde o final do primeiro tempo, quando o placar ainda estava 1×0.
Nessa partida, Alcindo (que é o segundo maior goleador do Grêmio em Grenais) fez seu último gol clássico (treze anos depois de marcar os seus três primeiros no mesmo jogo em no Gre-Nal 170).

Foto: Zero Hora
“O GRÊMIO FOI SUPERIOR EM TUDO NO CAMPO
Mal terminou a goleada do grêmio ontem no internacional por 3 a O, começou uma discussão que se estende hoje por todo o Estado: qual causa direta que determinou a vitória do time treinado por Telê Santana, com tanta facilidade? Muitos argumentos e lembranças podem ser usadas nessa discussão. Duas que transpareceram desde que a partida começou:
— o Grêmio teve o esquema certo e os jogadores para cumpri-lo. Recordar que a equipe de Castilho atuou muito desfalcada, lembrar o time do Olímpico com dez homens e maior parte do jogo e outros fatores ajudam no esclarecimento do assunto. Mas acima de tudo ficou claro a superioridade tática e técnica do Grêmio em toda a partida.
Superioridade que começou mal foi dada a ordem da bola rolar. Com três minutos de jogo, o Grêmio tinha conseguido dois escanteios, a defesa do Inter corria de um lado para o outro, era o time de Telê que tomava a iniciativa de ataque. De início havia um certo equilíbrio, a equipe do Beira-Rio procurava prender mais a bola, dando um ritmo mais lento à partida. Foi quando começaram as jogadas violentas. FaIcão acertou Ladinho, e recebeu pouco depois o troco de lura.
Alguns jogadores começaram a deixar a bola para caçar o adversário, as faltas e interrupções passaram a ser frequentes. O árbitro Luis Torres que começara bem, passou a vacilar, sua Insegurança logo foi transmitida ao bandeirinha Ricardo Piva, confuso também nas marcações de impedimento. O juiz tentava controlar o ritmo violento que o jogo assumiu, o cartão amarelo foi mostrado primeiro para Ladinho e Herminio. E depois para vários jogadores.
Falha de Manga
Foi quando aconteceu o primeiro gol do Grêmio, aos 19min30seg, em lance de bola parada que o goleiro Manga falhou. Éder foi derrubado no lado esquerdo por Cláudio, Tadeu Ricci bateu a falta, forte, de curva, o goleiro pulou certo, deixou a bola escapar para entrar mansamente em seu gol. O gol pode ser creditado à essas coisas que acontecem no futebol. Cinco minutos depois, no entanto Alcindo recebeu a bola de lura livre na área, tinha condições de fazer o gol, mas demorou, deu tempo da zaga prensar a bola. O lance mostrou falhas na marcação da defesa do Inter. Um setor que tentava sair das dificuldades em que se encontrava, de qualquer maneira, mas não recebia o apoio que precisava, principalmente da meia cancha, onde Falcão era o pior, tentava sempre enfeitar as jogadas, não conseguindo. Às vezes, perdia bisonhamente a bola.
O ataque do Inter não estava melhor do que os outros setores. Os jogadores eram bem marcados, não conseguiam vencer individualmente seus adversários. E procuravam provocar a zaga do Grêmio, até que obteve resultado nesse aspecto. Dario acertou Eder, o ponta esquerda se descontrolou completamente, e foi formada uma confusão. Eder acabou agredindo o árbitro Luis Torres, que expulsou o jogador. Isso ocorreu aos 42 minutos, a tática do time de Telê aí foi prender a bola até o primeiro tempo terminar. O jogo tinha unia nova feição: o Grêmio ia atuar no segundo tempo inferiorizado numericamente.
Para a fase final, Castilho deslocou Pedrinho para a ponta esquerda e Cláudio teve ordens de avançar Telê mandou que lura recuasse para fechar o lado direito, no ataque ficaram Alcindo e Tarciso. O Grêmio se dispôs a jogar no contra-ataque e fez isso muito bem Tanto que aos 60 minutos, conseguiu o segundo gol, em jogada rápida pelo lado direito, com Tadeu passando por Chico Fraga, fugindo de Herminio e dando um cruzamento para trás. Justamente onde Alcindo estava, bem colocado, para testar para baixo, vencendo Manga. Na jogada toda a defesa do Inter falhou, os jogadores chegaram atrasados, não fazendo a cobertura correta.
Repetição de erros
O gol só refletiu a superioridade do Grêmio que era tamanha que mesmo jogando com dez não dava a impressão de ter menos jogadores em campo. A cada Jogada em que seu ataque pegava a bola levava mais perigo do que o adversário atacando em massa. Tarciso se movimentava pelos dois lados, sofria uma marcação rigida de Marião e Herminio, sofrendo muitas faltas. Castilho resolveu mexer em seu, time. Tirou Pedrinho, apenas esforçado na esquerda e colocou Jair na direita, com Cláudio voltando para sua posição. Mas o ataque do Inter continuava muito embolado e a meia cancha não conseguia tabelar para tentar a penetração na área do time adversário.
A única jogada tentada pelos jogadores de Castilho eram os “chuveirinhos”. A bola era levantada para a área, na tentativa de encontrar Dario ou Escurinho, mas quem a alcançava era Oberdan ou Ancheta. Joãozinho Paulista foi preparado para entrar no lugar de Dario, mas acabou substituindo Caçapava, que se lesionou. O ataque do Inter ficou mais embolado ainda, enquanto Telê tirava Alcindo, cansado para botar Zequinha, além de reforçar a meia-cancha com a saída de lura para Jerônimo entrar. O Grêmio se fechava na defesa, mas ia rapidamente para o ataque, a entrada de Zequinha possibilitava lances perigosos. O jogo já tinha perdido as características de violência que assumira a maior parte do tempo, mas as jogadores do Inter entravam duro no adversário.
O terceiro gol da equipe do Olímpico não causou surpresas a ninguém, foi quase uma repetição do segundo. Escapada rápida pela direita de Zequinha, aos 86 minutos, que chegou na linha de fundo e cruzou para trás. Tadeu vinha entrando sem marcação e cabeceou para baixo, como no gol de Alcindo. Faltou mareação da defesa do Inter, Marião, Herminio e Claudio chegaram atrasados novamente na jogada. E o restante da partida ficou na tentativa do Inter em diminuir o resultado, fazer pelo menos seu gol de honra, que só poderia ocorrer em falha rio adversário, porque os jogadores de Castilho acumulavam erros, e só Jair em algumas joga das isoladas não se nivelava com os companheiros. Mas era pouco, o Grêmio segurou o resultado até o apito final do árbitro, mereceu ganhar de goleada.” (Zero Hora, segunda-feira, 18 de abril de 1977)


“GRÊMIO GOLEIA O INTERNACIONAL EM PARTIDA DE MUITA VIOLÊNCIA
Porto Alegre — Desfalcado de três titulares e sentindo os efeitos das recentes partidas pela Taça Libertadores da América, o Internacional não resistiu ao entusiasmo da nova equipe do Grêmio e acabou goleado por 3 a 0 ontem à tarde, no Estádio Olímpico. No primeiro tempo houve muita violência por parte das duas equipes e o ponta-esquerda Éder, do Grêmio, foi expulso aos 43 minutos por esbarrar propositadamente no juiz Luís Torres. Tadeu, ex-jogador do Flamengo, marcou duas vezes para o Grêmio aos 20 minutos do primeiro tempo e aos 41 do segundo. Alcindo, de volta ao time depois de sete meses, marcou aos 15 minutos do segundo tempo.
A renda do clássico somou Cr$914 mil 485. Equipes: Grêmio —Remi, Eurico. Ancheta, Oberdã e Ladinho; Vítor Hugo, Iura (Jerônimo) e Tadeu; Tarciso, Alcindo (Zequinha) e Eder). Internacional — Manga, Cláudio, Marião, Hermínio e Chico Fraga; Caçapava (Joãozinho), Falcão e Batista; Pedrinho (Jair), Dario e Escurinho.
Inter desfalcado
Sem Marinho, Vacaria, Valdomiro e Santos (este, primeiro reserva de Lula), o Internacional entrou em campo inferiorizado e só não foi envolvido totalmente pelo Grêmio desde o início porque seu meio campo movimentava-se muito. O primeiro gol, produto de uma falha do goleiro Manga, perturbou a equipe, que passou a jogar com violência. Este gol, aos 20 minutos, resultou de uma falta cobrada por Tadeu, que Manga deixou escapar mansamente para o canto esquerdo do seu gol.
Mesmo com 10 jogadores —Éder foi expulso aos 43 m — o Grêmio continuou a impor seu jogo no segundo tempo, especialmente depois que Caçapava saiu de campo machucado. Antes disso voltaria a marcar, por intermédio de Alcindo. Bem colocado na área, ele completou de cabeça um centro de Tadeu. Aos 41 minutos, quando Zequinha Já substituirá Alcindo, passando Tarciso para o meio, Tadeu completou um centro de Zequinha e desviou do goleiro Manga.
Mais onze jogos foram disputados nesse fim de semana pela sétima rodada do Campeonato Gaúcho: em Santa Cruz sábado, Santa Cruz 2×1 Estrela; em Porto Alegre (ontem pela manhã), Esportivo 3×1 Cruzeiro; em São Borja, São Borja 2×1 Cachoeira; em Rio Grande, São Paulo 1 x 0 Novo Hamburgo; em Santa Maria, Riograndense 1×0 Inter S.M.; em Bagé 1 x 1 Guarani; em Passo Fundo, 14 de Julho 0x0 Gaúcho; em Caxias do Sul, Caxias 1 x 0 Juventude; em Erexim, Atlético 1×0 Ipiranga; em Santo Ângelo, Santo Ângelo 0x0 São Luis; em Pelotas, Brasil 3 x 1 Pelotas.” (Jornal do Brasil, 18 de abril de 1977)

“Oberdã – foi um guerreiro – domina Jair” (Placar, Edição n.º 365, 22 de abril de 1977) Foto: JB Scalco
“GRÊMIO ATE TRIPUDIOU
O jogo não tinha importância para a tabela, já que o Inter e o Grêmio foram colocados em chaves diferentes e o regulamento — burro regulamento — manda que os primeiros, no fim do turno, partam do zero para uma melhor de três pontos. Mas o Gre-Nal do Olímpico, por ser o primeiro do ano, teve um grande valor como teste. A constatação veio fácil: o Grêmio está bem melhor do que no ano passado — e o Inter, pior. Os 3 a O não deixaram dúvidas, embora os colorados se consolassem com as ausências de Marinho, Vacaria, Valdomiro e Santos (para não falar em Lula) e com o cansaço da maratônica viagem ao Equador.
Para o Grêmio, de qualquer maneira, foi uma daquelas vitórias de lavar a alma, de fazer esquecer todas as humilhações do passado — por exemplo: em 16 partidas incluídas anteriormente nos testes da Loteria Esportiva, o Grêmio não havia vencido nenhuma. Justas esperanças de que este ano o Campeonato Gaúcho seja diferente: I) a defesa não perdeu nada com a troca de Beto Fusca, e Bolívar pelos veteranos Oberdã e Ladinho — e, no caso do quarto-zagueiro, o time afinal tem alguém para pular na cabeça com Escurinho; 2) Tadeu é um baita meia-armador, que se coloca bem, ordena o time e ainda vai lá na frente conferir — basta ver seus dois gols; 3) Alcindo, embora sem a mobilidade de outrora, pode repetir, aos 32 anos, a história de Flávio no Inter de 1975 — esteve sempre onde um centroavante deve estar e por isso marcou seu gol na cruzada medida de Tadeu.
O torcedor colorado, do outro lado, viu seu time se afundar com espantosa facilidade: perdia apenas de 1 a 0 quando o Grêmio ficou com 10 — o ponta-esquerda Éder foi expulso aos 42 do primeiro tempo —e, em vez de reagir, tomou mais dois gols. Quase que se podia ver os fantasmas de Figueroa, Carpeggiani e Minelli sobrevoando o Inter.
Dia 8 de maio haverá outro Gre-Nal sem qualquer importância para a tabela — a não ser que o Caxias, principal adversário do Inter em sua chave, aproveite para disparar ainda mais. Domingo, no clássico de Caxias Sul, sofreu muito para ganhar do Juventude — injusto 1 a 0 — mas manteve a liderança, agora com 11 pontos ganhos. O Inter tem quatro e presume-se que depois tira a diferença. Senão …
Em tempo: Oberdã, além de jogar um bolão, mostrou quando vale uma boa malandragem: sujou a meia de mercúrio cromo, para fingir que estava ferido; a torcida gremista vibrava cada vez que ele entrava em ação — e o time inteiro respondia à vibração com uma garra que não teve nos últimos oito anos.” (Divino Fonseca, Placar, Edição n.º 365, 22 de abril de 1977)

Foto: Zero Hora
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GRÊMIO: Remi; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Iúra (Jerônimo) e Tadeu Ricci; Tarciso, Alcindo (Zequinha) e Éder Aleixo.
Técnico: Telê Santana
INTER: Manga; Cláudio Duarte, Marião, Hermínio e Chico Fraga; Caçapava (Joãozinho Paulista), Falcão e Batista; Pedrinho (Jair), Dario e Escurinho
Técnico: Carlos Castilho
Data: 17 de abril de 1977, domingo, 15h30min
Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre – RS
Renda: Cr$ 914.485,00
Arbitragem: Luis Torres
Auxiliares: Ricardo Piva e Erich Fuchs
Cartões Amarelos: Iura, Herminio, Cláudio, Escurinho, Eder e Ladinho
Cartão Vermelho: Éder Aleixo
Gols: Tadeu Ricci, aos 18 minutos do primeiro tempo. Alcindo, aos 15 minutos e Tadeu Ricci aos 41 minutos do segundo tempo