No Gauchão de 1962, Floriano e Grêmio não saíram do 0x0 no estádio Santa Rosa, em jogo válido pelo 1º turno da competição.
A chuva que caiu na região metropolitana naquele dia deve realmente ter sido muito forte, uma vez que a partida entre Inter e Guarany de Bagé, marcada para o mesmo horário nos Eucaliptos, acabou sendo adiada.
“FLORIANO X GRÊMIO FOI BEM À MODA PRÉ-ELEITORAL: JOGO SÓ FICOU NAS PROMESSAS
NOVO HAMBURGO – (De Ataíde Ferreira, nosso enviado especial) — Partidas como a que o que Grêmio e Floriano disputaram ontem, no Santa Rosa, fazem com que o cronista seja obrigado a voltar seus pensamentos o início da semana, até o momento da efetivação do embate. Apontado, com inteiro razão, como uma das pelejas mais interessantes da temporada, o choque entre anilados e tricolores prendia, com muita antecedência, as atenções do mundo esportivo gaúcho. Havia, de parte dos florianistas, a esperança de manter a a posição invejável na tabela de classificações, para os tricolores, a oportunidade para confirmar o triunfo categórico do domingo anterior, frente ao Flamengo.
Quando, porém, foram confirmadas as ausências de Giovani e Odon, no quadro de Novo Hamburgo, surgiu um “calafrio” no calor da torcida da Courocap. De outra parte, a família gremista passou a encarar o compromisso como “apenas um a mais”. Sem Giovani e Sem Odon o Flori no, que alicerçara suas atuações anteriores (no que tange a ataque) justamente nêsses dois elementos, dificilmente ameaçaria o quadro do Olímpico.
Mesmo assim o entusiasmo se foi acentuando a ponto de, com urna tarde chuvosa como a de ontem, levar ao Santa Rosa uma assistência extraordinária. Assistência que chegou, em sua maioria, nada menos do que de 3 horas antes do prélio.
Nunca, em época alguma, mesmo com o tempo como cenário de mau gosto, houve tanta preparação em tôrno de um cotejo reunindo tricolores e anilados. O palco estava armado, faltando apenas os artistas. E foi ai que o espetáculo, pelo muito que oferecia, que prometia, teve a sua parte negativa.
Floriano e Grêmio não andaram como se esperava. Tiveram, no balanço das ações, apenas um mérito: o espírito de luta, a vontade de jogar. No mais, foi um legitimo jogo em que a bola, “judiada”, castigada, andou de pé em pé sem um objetivo definido, sem o desejo, a vontade de goal.
Com um início meio a jato acabou, por fim, caindo. Não tanto em sua movimentação e sim no desacêrto. A etapa inicial foi mais do Grêmio, pela serenidade, já que Milton e Elton estiveram mais ou menos com uma produção equivalente a do domingo anterior. A defesa foi absoluta no confronto com o ataque anilado, que teve em Miguel um homem isolado, esporadicamente acompanhado por Carlinhos e Xameguinha.
E aí surgiu a outra realidade do gramado: a superioridade da defensiva dona da casa sôbre o ataque gremista. Foi tentada a mesma manobra do domingo anterior, com Vieira ficando e Milton avançando (outras vezes o próprio Elton). E que fêz o Floriano? A coisa mais simples. Luiz Engelke ordenou a Rui a tarefa de policiar Milton (ou Gessi, nos deslocamentos) cabendo a Odir a tarefa de policiar Vieira, que foi mais meia cancha, nesta fase, do que homem de frente. Paralelamente, surgiu aquela modalidade já batida, surrada e raramente de resultados positivos:. bola cruzada, de um lado ou outro, para a área. Altino foi o dono absoluto, na primeira etapa, das antecipações. Ganhou tôdas, no miolo da área. E convenhamos, cruzar a pelota pelo alto, com cancha molhada e bola mais molhada ainda, só mesmo contra uma defesa de “anões”.
O Floriano, é verdade, não incorreu nesse erro mas, de qualquer forma, não teve um ataque capaz de vencer a segurança dos laterais, por onde foram tentados as Valério e Mourão não permitiram muita liberdade aos homens que tiveram pela frente. Aos arqueiros, logicamente, sobrou pouco no primeiro tempo. E ai está a motor prova do domínio absoluto das retaguardas sôbre os ataques.
A fase final, tal como a primeira, teve um começo que pareceu pender para os visitantes. Marino, com boa velocidade, passou a ser explorado mais pelo miolo, trocando com Ivo Diogo. A tentativa de Ênio Rodrigues teve sua razão principal no fato de Marino parecer melhor. adaptado ao terreno molhado. Mas o efeito não foi, para os tricolores, o desejado, já que a linha de zagueiros manteve o mesmo ritmo, aliviando com autoridade. Vieira, que poderia ser outra solução indo à frente, também não deu ponto. Rui, seu marcador, acabou dominando inteiramente ao catarinense. Com isso, cresceu o Nadir e Ica, mais preocupados, na primeira fase em marcar, passaram a jogar, a acionar o ataque, invertendo os papéis, Por outro lado, a entrada de Odon na direita veio dar mais mobilidade e também mais personalidade à vanguarda. Como excelente ponteiro que é, o ex-Taquarense começou a usar, com autoridade, suas principais virtudes (principalmente para cancha pesada): velocidade e reflexão espantosa nas corridas com a bola. Pela facilidade de conduzir o couro, de soltá-lo ou prendê-lo conforme a necessidade do momento. Odon aplicou nada menos de cinco cortes espetaculares cm Mourão, obrigando o excelente lateral do primeiro tempo a “sarrafá-lo”. Depois, com habilidade, pois viu que o juiz já, se preparava sempre que Mourão ia no lance, atirava-se ao solo, provocando pelo menos duas faltas que não existiram. Certo ou não, para o Floriano os resultados foram benéficos, A preocupação passou a ser dupla.
Xameguinha, apenas lutador no primeiro tempo, passou a jogar mais livre, quase sempre correndo ao lado de Odon, a espera do passe ou da cruzada. Para completar, Miguel usando a cabeça (para jogar), com campo livre, foi um companheiro ideal paro Ica, e Nadir, pois quando via a possibilidade de perigo para suas caminhadas, recuava, facilitando, com isso, as investidos de um seus companheiros de meia cancha. Uma espécie de réplica da manobra do Grêmio, no primeiro período.
Por vêzes, houve expectativa de goal. Mas ficou apenas nisso. Os homens de área do Grêmio tiveram autoridade suficiente para evitar, que os ataques sequer se aproximassem da área para as conclusões. E quando o Floriano, ante a impossibilidade de vencer Airton e Ortunho no corpo a corpo, tentou pela esquerda, encontrou, um Valério com grande personalidade, voltando a confirmar que valeu os milhares de cruzeiros gastos com a sua aquisição.
Como observaram os leitores, sobrou pouco, muito pouco mesmo, de uma partida que se antecipava como um dos grandes espetáculos do atual campeonato. E o público, principalmente o gremista, deixou o Santa Rosa intrigado, mais uma vez, com as reais possibilidades de seu onze. Os anilados mais alegres do que tristes, pois esperavam a derrota com a ausência de Giovani, puderam saborear um empate que chegou a parecer impossível antes do cotejo. Para a época de eleições, a partida esteve à altura: prometeu muito mas cumpriu muito pouco.” (Ataíde Ferreira, Folha Esportiva, segunda-feira, 16 de julho de 1962)
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