A vitória do campeão europeu sobre o campeão sul-americano pelo placar mínimo é absolutamente normal e aceitável, assim como seria o inverso. Diante do Real Madrid o Grêmio fez o jogo que as circunstâncias lhe permitiram fazer: Na impossibilidade de fazer uma marcação adiantada (o que até foi tentado nos minutos iniciais) o tricolor recuou suas linhas, protegeu a entrada da sua área e adotando uma postura mais “reativa” na espera de eventuais espaços que poderiam ser aproveitados em contra-ataques.
A parte defensiva dessa estratégia funcionou relativamente bem no primeiro tempo. Kannemann e Geromel estavam inspirados e Cristiano Ronaldo e Benzema foram os jogadores de linha do Real que menos tocaram na bola nos 45 minutos iniciais. Ocorre que a solidez da defesa tricolor acabou maculada por um erro primário no início do segundo tempo, quando a barreira abriu numa cobrança de falta, permitindo que a bola chutada por Cristiano Ronaldo passasse entre Luan e Barrios e fosse parar no fundo da rede. Depois disso o Grêmio parece ter ficado sem forças e sem alternativas para buscar um empate.
E foi justamente essa falta de alternativas o maior problema do Grêmio em Abu Dabhi. Obviamente que a ausência de Arthur foi bastante sentida. Sobrecarregado na tarefa de criação das jogadas Luan não fez boa partida e Renato não tinha muitas opções para alterar isso (Apenas 2 dos 23 inscritos pelo clube na competição eram meias ofensivos).
É compreensível que esse tipo de confronto enseje um debate sobre o desnível técnico entre os gigantes europeus e os campeões da Libertadores. Mas beira a desonestidade intelectual analisar essa partida sem levar em conta que o Grêmio chegou desfalcado para enfrentar um Real Madrid com força máxima. Igualmente me parece arriscado dar um veredicto sobre a superioridade de todo o futebol europeu sobre todo o futebol sul-americano com base em um único jogo. Ainda mais quando o vencedor não é um time qualquer, e sim a única equipe que conquistou dois títulos em sequência de Champions League nos últimos 25 anos.
Geromel jogou demais. Demais. Até ponta-pé, que não é sua especialidade, ele deu. E deu com maestria. É um absurdo que não tenha constado na seleção dos 3 melhores jogadores do torneio.
Acho muito válido que números e estatísticas sejam usados na análise do jogo. Contudo, me parece sem sentido considerar número de finalizações como uma medida inequívoca do que aconteceu na partida (ainda mais quando já existem ferramentas mais completas à disposição).
Assim como a lesão de Arthur, é também de se lamentar o fato de que Maicon ainda não tivesse condições para jogar por mais tempo. Nos poucos minutos que entrou em campo, ele claramente aumentou o nível de jogo do time, ainda que estivesse notadamente longe do seu melhor ritmo.
Para 2018 o Grêmio pode e deve pensar em algo que lhe faltou nesse jogo: Alternativas no plantel e/ou no seu modelo de jogo para quando os seus volantes e laterais fiquem excessivamente ocupados nas tarefas defensivas.
Perder nunca é bom. Mas algumas coisas estão acima disso. Foi sensacional perceber a torcida do Grêmio se fazendo ser ouvida nos primeiros minutos da FINAL DO MUNDIAL. Da mesma forma foi muito bonito ver os torcedores gremistas gritando o nome do time no finzinho da partida, quando o resultado já parecia irreversível (lembrou um pouco aquela final contra o Corinthians em 1995).
Fotos: AFP (Olé), Ricardo Giusti (Correio do Povo), Mike Hewitt, David Ramos e Francois Nel (FIFA.com), Amr Abdallah Dalsh (Reuters), Karim Sahib e Ahmed Jadallah (The Guardian)
Real Madrid 1×0 Grêmio
REAL MADRID: Navas; Carvajal, Sergio Ramos, Varane e Marcelo; Casemiro, Kross, Isco (Lucas Vazquez, aos 27/2ºT) e Modric; Benzema (Bale, aos 34/2ºT) e Cristiano Ronaldo
Técnico: Zinedine Zidane
GRÊMIO: Marcelo Grohe; Edilson, Pedro Geromel, Kannemann e Cortez; Jaílson, Michel (Maicon, aos 38/2ºT), Ramiro (Everton, aos 25/2ºT), Luan e Fernandinho; Lucas Barrios (Jael, aos 17/2ºT)
Técnico: Renato Portalupppi
Local: Estádio Zayed Sports City , Abu Dhabi (EAU)
Data: 16/12/2017, sábado, 15h00min
Árbitro: César Ramos (MÉX)
Auxiliares: Marvin Torrentera (MÉX) e Miguel Hernandez (MÉX)
Público: 41.094
Cartões amarelos: Ramiro, Casemiro
Gols: Cristiano Ronaldo, aos 7 minutos do 2º tempo