
Foto: Zero Hora
No Gauchão de 77, Grêmio e Ypiranga também se enfrentaram no final de março/início de abril. Mas naquela ocasião as equipes se enfrentaram somente uma vez pelo estadual, em jogo disputado no Olímpico, com vitória gremista por 3 a 1.
É interessante notar as diferenças do Gauchão de 1977 para o de 2022. Naquela temporada o Grêmio fez 34 jogos na campanha do título. Já o Ypiranga foi rebaixado, numa campanha com os mesmo 15 jogos que irá fazer neste ano.
Mas nada disso é mais interessante do que essa história do jogador Clóvis tentando assinar a súmula como atleta e como médico.

Foto: Zero Hora
“OBERDAN COMEÇA MAL E ACABA COMO O HERÓI DO JOGO
Quem esperava uma retranca do lpiranga, se enganou. O treinador João Alberto tentou fechar os espaços e até conseguiu empatar. Mas Telê Santana conseguiu evitar o nervosismo e o time acabou fazendo 3 a 1. Foi a volta do futebol solidário e competitivo do Grêmio.
Pressão
Por jogar em seu estádio, com a torcida a seu favor e muito confiante o Grêmio começou atacando. A movimentação do ataque era boa, com destaque para Zequinha que entrava pelo meia carregando o marcador e abrindo espaços. Os zagueiros lambem davam muito apoio e de vez em quando, só Vítor Hugo e Tadeu ficavam recuados, à espera de qualquer reação do Ipiranga. A defesa do adversaria era fraca. Jorge e Mujica falhavam em lances sérios e deixavam o goleiro Dilon em apuros. O Grêmio parecia querer massacrar, mas o gol não saia.
A partir de determinado momento do primeiro tempo lá pelos sete minutos o Ipiranga tentou marcar por pressão. Tirou os espaços para o Grêmio sair jogando, cercou o ataque e o meio-campo e não havia jeito da bola ser lançada para a frente. Ai começaram a aparecer algumas falhas do Grêmio. Oberdan tinha trabalho para segurar o lateral direito João Carlos, que forçava jogadas mais pelo meio e a torcida ficou pensando que o Ipiranga poderia complicar uma partida que tinha tudo para ser uma vitória.
Aos dez minutos do primeiro tempo, Zequinha fez 1 a 0. Ele estava com a bola, fora da área. Iura chegou a correr para se colocar, a defesa do Ipiranga também se preparou. O ponteiro direito preferiu dar por cobertura, a bola saiu alta o goleiro Dilon não conseguiu defender.
Estava tudo pronto para uma goleada, mas o Ipiranga insistia nas jogadas por pressão e conseguia em alguns minutos dar trabalho à defesa do Grêmio. Apesar de não entrar na área, o time de Erexim sempre tentava chutar ou aproveitar as jogadas do ponteiro direito João Carlos com muita velocidade, ele criava algumas jogadas de perigo. Aos 26 minutos, houve uma falha de Oberdan e o Ipiranga empatou. O zagueiro atrasou mal a bola tocou mais para o meio da goleira e Remi se jogou para a direita. O centroavante Lambari entrou e chutou para o empate.
O Grêmio então se afobou, tentando de qualquer forma o gol de desempate. Houve muitos escanteios, faltas perto da área (o zagueiro Mujica salvou um gol feito, cabeceando na linha de gol) mas o Grêmio não marcava. O Ipiranga se fechava, utilizando uma retranca bem armada e a agonia do empate começava a dar trabalho ao Grêmio. Todo time ia a frente, buscando marcar e os jogadores do Ipiranga aliavam as jogadas de qualquer forma. Aos 44 minutos, Tarciso chutou uma bola na trave esquerda e a defesa do adversário teve muito trabalho para evitar o gol de desempate O primeiro tempo terminou com uma agonia para a torcida gremista a vitória não vinha. o Ipiranga forçava a marcação por pressão e o Grêmio não parecia tranquilo.
A vitória
A agonia terminou aos quatro minutos do segundo tempo. Ladinho deu apoio ao ataque e perto da área, cruzou forte. Oberdan que vinha pelo meio, como centroavante e marcou 2 a 1 para o Grêmio. Ele havia entregado um gol para o adversário e agora se recuperava O Ipiranga, que tentara no primeiro tempo marcar por pressão, já não corria tanto em campo. O Grêmio começava a dominar a partida, correndo muito, criando mais situações de perigo e abafando a defesa do Ipiranga. A meia-cancha gremista dominava a situação.
Oberdan marcou mais um gol, aos 15 minutos, Desta vez foi o lateral Eurico quem fez o cruzamento para a área. Na bola alta, Oberdan entrou de cabeça, o goleiro Dilon não alcançou e o Grêmio fez 3 a 1. Os dois gols de Oberdan e as cruzadas dos laterais que foram para o ataque, provaram que o time de Telê Santana está funcionando de verdade. O futebol solidário, de que tanto se falava a e do qual se teve uma amostra na partida contra o Cruzeiro voltava no olímpico com um time calmo.
As chances de gol iam se seguindo. Aos 27, Iura quase marcou, depois de um lançamento do lateral Eurico. O Grêmio dominava o Ipiranga jogando pelas pontas, com os laterais apoiando e a meia-cancha controlando o adversário. Aos 35 minutos, Oberdan saiu sentindo câimbras. Mas o Grêmio não parava de atacar, forçando a defesa do Ipiranga, que, sem fôlego, se fechava na retranca tentando evitar mais gols. A movimentação dos jogadores gremistas era boa, havia aproximação dos laterais com os ponteiros, a zaga ia do ataque quando havia alguém colocado na cobertura e a meia-cancha se entendia bem com o ataque Era o domínio de campo e da bola, uma vitória bem construída.
O Ipiranga fechou os espaços, enquanto teve pernas. Mas faltou preparo físico, coisa que o Grêmio tem de sobra e a vitória veio ao natural. No fim do primeiro tempo, parecia que o Ipiranga ia complicar a partida, marcando por pressão e tirando as chances do Grêmio sair com a bola. Com os 3 a 1, a torcida respirou aliviada. Telê sabe que até domingo terá de corrigir alguns detalhes de atenção da zaga, especialmente Oberdan, que falhou no gol do Ipiranga. Mas domingo que vem o time tem novidade: o goleiro Corbo.” (Zero Hora, sexta-feira, 1º de abril de 1977)
–

“CLÓVIS CRIA CONFUSÃO NO ANTIDOPING
O funcionário da FGF Vilmário Rosa, ficou surpreso quando o meia-cancha Clóvis Stainissuski do Ipiranga se apresentou como médico do clube e se prontificou a assinar a relação dos relação dos medicamentos para efeito do exame antidoping. A relação entregue a Vilmario Rosa indicava que o jogador João Carlos havia tomado sal de frutas e os demais tinham tomado café antes de entrar em campo. Mas o médico da FGF – Ênio Rosa – desconfiado de que Clóvis não estava habilitado, solicitou do jogador que ele apresentasse o número do seu registro (CRM) Clóvis mostrou apenas o CPF e agora o Ipiranga vai ter que comparecer no TJD para explicar porque o jogador mentiu ao representante da FGF e se apresentou como o médico do clube.
Assim, o Ipiranga será responsabilizado duas vezes: a equipe se atrasou para entrar em campo e por tentar iludir os representantes da FGF. Segundo informações, no caso do jogador Clovis, será também responsabilizado o supervisor Vitor Bertisselli que teria induzido o meia-cancha a mentir, já que na delegação do Ipiranga não havia médico, contrariando urna das exigências da FIFA.
Ainda no primeiro tempo, o goleiro Odilon levou um chute sem bola de Ladinho. E como apenas o massagista estava cuidando do jogador os responsáveis pela FGF mandaram que o médico Anderlei Antonelli do Grêmio fosse até ao gol para recuperar o goleiro do Ipiranga. O estranho e que o “médico” Clovis em vez de atender seu companheiro, preferiu ficar no meio do campo vendo o massagista da sua equipe trabalhar sozinho. Clovis tinha assinado a súmula corno jogador e como medico e agora terá que explicar porque tentou enganar a mesa da FGF.” (Zero Hora, sexta-feira, 1º de abril de 1977)

GRÊMIO: Remi; Eurico, Ancheta, Oberdan (Vilson) e Ladinho; Vítor Hugo, Tadeu e Iúra, Zequinha, Tarciso e Éder Aleixo
Técnico: Telê Santana
YPIRANGA: Dilon; Joubert, Jorge, Mujica e Cito; Clóvis, Éderson e Paulo Roberto; João Carlos, Lambari e Fernando Rebelo (Paulo Taborda)
Renda:Cr$ 185.650,00
Arbitro: Luis Guaranha
Auxiliares: Olinto Preussler e Herminio Goulart