No Robertão de 1967, o Grêmio venceu o Cruzeiro por 1×0, com um gol de Alcindo.
Um aspecto que eu considero um pouco frustrante de pesquisar partidas antigas reside no fato de ser muito raro encontrar informações precisas nos jornais sobre o público presente em jogos anteriores a década de 70. Via de regra só se mencionava a renda de cada evento.
Esse jogo, contudo, parece ser uma exceção. Porém não me arrisco a dizer que os números sobre o público são precisos. Pesquisei no Correio do Povo, na Cruzeiropédia, no Diário de Notícias e na Grêmiopédia. Todos informam a mesma renda de NCr$ 63.225,00, mas quanto ao público se verificam divergências. O Diário de Notícias não traz nenhum dado sobre a quantidade de torcedores presentes. O Correio do Povo fala em “Público de 40 mil pessoas“. A Grêmiopédia divulga um público de 30.107, enquanto consta na Cruzeiropédia a informação de “Público pagante: 30.600“.
Tentando entender a discrepância, inicialmente pensei que os 40 mil poderiam ser o público total, mas aí teríamos praticamente 1/4 de não pagantes, o que me soa pouco provável. Me parece mais razoável imaginar que o Correio do Povo exagerou um pouco ao informar os 40 mil, até porque eu tenho lá minhas dúvidas que o Olímpico, com a formatação que tinha a época, comportaria essa quantidade de torcedores.
“GRÊMIO BATE CRUZEIRO NUM GRANDE JÔGO: 1X0
Notável desempenho dos mineiros valorizou a vitóriaVencendo ao Cruzeiro, campeão brasileiro, pelo marcador de 1 a 0, o Grêmio deu novo passo para sua classificação no turno final do Robertão e, mais do quo isto, deu à torcida gaúcha uma grande alegria, pois com este resultado assegurou a classificação do Internacional como companheiro do Corinthians no Grupo A, fato este que somente se concretizará se acontecer a vitória “impossível” do Bangú sôbre o Palmeiras pelo marcador de 6 a O o que, convenhamos, não pode estar sequer nos planos da equipe de Martins Francisco, por mais otimistas que eles sejam.
O bom público que compareceu domingo ao Olímpico, fazendo a arrecadação atingir aos 63.225 cruzeiros novos, teve oportunidade de assistir a um verdadeiro espetáculo futebolístico, o melhor talvez de quantos já foram aqui efetuados dentro desta estupenda promoção que está sendo o Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
Um Cruzeiro que, sem Tostão, jogou com mais desenvoltura, sem se preocupar com jogadas bonitas do meia-cancha que são o ponto alto do “Pelé de Minas”, sofreu um gol relâmpago que, diga-se de passagem foi o coroamento de uma série de jogadas que poderiam ter se transformado lego de início em dois ou três outros que teriam, então, liquidado com o jôgo mas, paradoxalmente, teriam igualmente tirado e beleza do espetáculo que se viu durante os noventa minutos. Apresentou a equipo visitante uma dupla de meia-cancha soberba e sem favor algum a melhor do Brasil na atualidade e um ataque veloz e infiltrador, ao passo que a retaguarda esteve tranquila a partir dos quinze minutos inicial, a ponto de facilitar o trabalho dos demais setores.
Em contraposição o Grêmio, que deu a impressão de que repetiria a “dose” vascaína, aplicando uma goleada de fazer história diante do campeão brasileiro decaiu verticalmente, a partir da conquista do tento de Alcindo, a ponto de, no período final lutar com unhas e dentes para manter a escassa diferença, como que sem condições para aumenta-la. Dono de casa, o Grêmio, ficou em situação de visitante que, marcando um gol solitário passa a jogar acuado em sua própria defesa, na esperança de manter incólume sua cidadela. Teve sorte o Grêmio, neste particular, por contar com um Alberto em tarde espetacular e cem um Everaldo esbanjando tranquilidade e categoria, os quais foram praticamente os esteios da equipe uma vez que Altemir está pedindo uma substituição urgente e Airton, a cada dia faz mais falta ao centro da área, quando não seja pelo menos para trazer de volta a necessária tranquilidade ao setor. A meia-cancha gremista, ponto alto da equipe, viu-se batida pelo excelente duo de ligação estrelado, fator que veio Influir igualmente no ataque, onde apenas Alcindo continuou sendo o “primus inter pares”, autor inclusive do gol que garantiu o marcador e a classificação de uma equipe gaúcha, pelo menos, na etapa final do Robertão.
O Gol
Recebendo de Sérgio Lôpes o ponteiro Babá acionou Alcindo e o comandante, correndo pela direita, sob as vistas de Cláudio, desferindo certeiro arremesso da entrada da área, que deixou cristalizado o arqueiro Raul, totalmente impotente para deter o “canhão de Sapucaia”. Decorriam entãp, apenas, cinco minutos de ações,
Arbitragem.
Na direção do encontro esteve o mineiro Sílvio David, que pela primeira vez apitou em Pôrto Alegre. Não foi bem S.S, errando seguidamente nas faltas vencidas, coincidentemente sempre contra o Grêmio. Expulsou Volmir, que demorou-se na cobrança de uma falta, sem a menor advertência prévia e sem o atleta mostrar qualquer sinal de rebeldia ou ofensa. Deixou de marcar uma penalidade clara de Pedro Paulo em Volmir. e sua única decisão mesmo certa, anular o gol de Natal, foi tomada pela interferência precisa do auxiliar João Carlos Ferrari, que assinalou o visível impedimento do ponteiro na ocasião do lançamento de Dalmar. Djalma Moura, com altos e baixos foi o outro auxiliar.” (Diário de Notícias, terça-feira, 9 de maio de 1967)
“GRÊMIO SOUBE SER GRANDE ANTE NOTÁVEL CRUZEIRO
Renda foi de NCr$ 63.225, marcador de 1×0 e Alcindo ArtilheiroCom um espetacular golo de Alcindo, consignado aos 5 min de ações, o Grêmio bateu por 1 x 0 ao Cruzeiro, num dramático e emocionante jôgo como soube ser o do Olímpico e cujo resultado veio totalmente ao encontro das pretensões gaúchas no “Robertão”. O penta galgou mais um degrau no rumo da classificação e o Internacional já pode se considerar como companheiro do Corinthians no Grupo A. Público de 40 mil pessoas, que proporcionou às bilheterias a renda de NCr$ 63.225,00 vibrou e sofreu com as alternativas do grande jôgo, que teve uma arbitragem irregular do mineiro Silvio Davo e como anormalidade uma expulsão: a de Volmir aos 79 m de ações. Grêmio e Cruzeiro protagonizaram um “combate” digno de dois autênticos campeões. A vitória acabou ficando com o quadro gaúcho, mas se outro fosse o resultado, jamais haveria injustiça. O Cruzeiro foi uma esquadra extraordinária e que apenas levou desvantagem no marcador. Futebol, o campeão mineiro e do Brasil apresentou em dose suficiente. O que, pacificamente, valoriza sobremaneira o triunfo alcançado pelo tricolor dos pampas.
[…]
O GOLO – Aconteceu aos 5 minutos de jôgo. E foi digno da grandeza do espetáculo. Marcou-o Alcindo, de forma sensacional. Sérgio Lopes trocou a bola com João Severiano, que serviu Babá. Alcindo “armou” e “enfiou” milimétricamente. O “Bugre”, mesmo acossado por Cláudio, disparou um petardo de pé direito que fêz “bochechas” no ângulo esquerdo do arqueiro Raul.” (Correio do Povo, terça-feira, 9 de maio de 1967)
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GRÊMIO: Alberto; Altemir, Ari Hercílio, Áureo e Everaldo; Cleo e Sergio Lopes; Babá Joãozinho, Alcindo e Volmir.
Técnico: Carlos Froner
CRUZEIRO: Raul; Pedro Paulo, Cláudio, Procópio Cardoso e Neco; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Wilson Almeida, Evaldo e Ari (Dalmar).
Técnico: Adelino
Torneio Roberto Gomes Pedrosa – 1ª Fase – 12ª Rodada
Data: 07 de maio de 1967, Domingo
Local: Estádio Olímpico, em Porto Alegre, RS
Renda: NCr$ 63.225,00
Árbitro: Sílvio Davi
Auxiliares: João Carlos Ferrari e Djalma Moura
Gol: Alcindo, aos 5 minutos do primeiro tempo