No Brasileirão de 1976, o grande “personagem” do confronto entre Palmeiras e Grêmio foi o gramado do Parque Antártica, tendo sido objeto de reclamação forte dos atletas do tricolor. Curiosamente, na rodada anterior, os Palmeirenses haviam reclamado bastante do terreno de jogo do estádio Centenário, quando também ficaram no 0x0 com o Caxias.
De tal modo fica a pergunta: O gramado do Parque Antártica em algum momento foi bom?
Foto: Hipolito Pereira (Zero Hora)
“CAMPO RUIM NÃO PERMITIU MAIS QUE UM EMPATE
O mau estado do gramado do Parque Antártica foi o principal responsável pela Partida muito ruim que Grêmio e Palmeiras realizaram na tarde de ontem. O campo seco, esburacado e com muitos cocorutos, acabou logo nos primeiros minutos, com toda a boa intenção que os treinadores Dudu, do Palmeiras e Telê Santana, do Grêmio, tinham no sentido de fazer com que suas equipes apresentassem um futebol de toques e jogadas organizadas dentro do esquema pretendido por eles.
No final, o empate em zero acabou sendo o resultado mais justo de urna partiria muito ruim tecnicamente, onde o excelente público pagante de 31.798 pessoas teve poucas oportunidades de vibrar com jogadas de gol ou ao menos com bons lances de futebol.
PELAS PONTAS
Os primeiros minutos de jogo serviram principalmente para determinar a transformação na forma de atuar da equipe do Grêmio. Desde o início os jogadores tentaram rolar a bola, procurando realizar as jogadas que haviam sido ensaiadas durante a semana. Mas logo eles viram que isso seria impossível pelo mau estado do gramado. A bola não rolava, ela batia nos cocorutos, desviava, obrigando os jogadores a um maior esforço, para recuperar o lance.
Durante esses minutos, quando tentou as jogadas ensaiadas, o Grêmio ficou totalmente perdido no gramado do Parque Antártica. Sorte dele que o Palmeiras – melhor adaptado aos buracos e cocorutos – não se mostrava muito interessado em ir ao ataque. O esquema de jogo organizado por Dudu em momento algum mostrou ser ofensivo. Havia um cuidado muito grande na defesa e o meio-campo procurava fechar espaços um pouco à frente da área os bons lances que eram criados no ataque aconteciam através de lançamentos em profundidade, visando explorar a velocidade dos ponteiros Edu e Nei.
Aos poucos os jogadores do Grêmio foram percebendo que, se quisessem conseguir alguma coisa de útil, deveriam tirar a bola de primeira, jogando pelas laterais do campo, onde os acidentes geográficos tinham menor intensidade. E foi a partir dos lances individuais tentados principalmente por Ortiz, que o Grêmio teve as suas boas oportunidades, A melhor delas aconteceu aos 8 minutos, quando Ortiz passou por Rosemiro e cruzou para Alcino, que errou em bola, mas ainda teve tempo para, chutar a gol na segunda tentativa. A bola venceu ao goleiro Leão, mas o lateral-esquerdo Ricardo salvou em cima do risco, tocando para escanteio. Este foi o grande lance de gol do Grêmio em toda a partida, mas dois minutos antes, Ancheta já havia perdido também uma boa oportunidade , na cobrança de um escanteio, no tocar de cabeça para o gol, e na volta, chutar pela linha de fundo.
Depois das duas chances de gol perdidas, o Palmeiras aumentou os cuidados defensivos, colocando um jogador a mais em cima de Ortiz (normalmente era Didi). Aos 15, minutos foi a vez do Palmeiras perder sua primeira chanca de gol, quando Alexandre perdeu a bola infantilmente para Toninho, que chutou por cima do gol de Cejas. E aos 41 minutos, o Palmeiras perdeu a maior chance do primeiro tempo, quando Neio ganhou de Eurico e tocou a bola entre Ancheta e Beto Fuscão, para a entrada de Ademir da Guia, que ficou sozinho diante de Cejas e tocou pelo lado do gol.
Depois disto, aos 43 minutos, aconteceu o único lance discutível da arbitragem, quando a bola bateu na mão de Ancheta e a torcida palmeirense pediu pênalti. O árbitro Jose Roberto Wright interpretou o lance como bola na mão e mandou seguir a jogada. Logo depois terminou o primeiro tempo, com vaias da torcida para o mau espetáculo.
As esperanças de que no segundo tempo, as duas equipes melhorassem a qualidade do futebol apresentado, acabaram cedo. Desde os primeiros movimentos desta etapa, os jogadores procurando tocar rapidamente a bola para frente, tentando explorar os únicos lances que deram certo no primeiro tempo: as jogadas pelas pontas.
No Grêmio, a defesa não tinha maiores problemas, e quando Eurico avançava para ajudar o ataque, Vitor Hugo fazia a cobertura do setor. O meio-campo tinha em Vitor Hugo, seu jogador mais lúcido, embora Alexandre tentasse inutilmente parar a bola e organizar as jogadas. Iúra era um peso morto, e apesar de todo o esforço, comprometia o trabalho dos companheiros. No ataque, até ser substituído por Tarciso, Zequinha criou alguns lances de perigo, mas bem menos que Ortiz, enquanto Alcino ficava trocando empurrões com a zaga do Palmeiras, talvez para compensar o mau futebol apresentado.
O Palmeiras era um time bem organizado na defesa e tinha um meio-campo sem muitas idéias, cuja única preocupação era explorar a velocidade dos ponteiros, deixando o centroavante Toninho perdido entre os zagueiros.
Nesta etapa, o Grêmio teve maior presença em campo embora sem grandes oportunidades de gol. A maior delas aconteceu aos 18min, quando Zequinha chutou da entra da área, obrigando Leão a desviar para escanteio. O Palmeiras que parecia inferiorizado em campo, perdeu um gol certo aos 16 minutos e quase ganhou o jogo no minuto final, quando Edu chutou desviado no risco da pequena área. O que seria uma injustiça, já que nenhuma das equipes, pelo futebol apresentado, merecia a vitória.” (José Enedir, Zero Hora, segunda-feira, 20 de setembro de 1976)
“PALMEIRAS E GRÊMIO, SEM GOLS, SEM FUTEBOL
Os times completaram o segundo empate em zero. Houve equilíbrio e pouco futebol. No 1º tempo, o Palmeiras ficou na defesa, aceitando a pressão. Só depois reagiu
Mais de 30 mil torcedores foram ao Parque Antártica e viram um futebol sem gols, ontem à tarde, num jogo equilibrado tanto no cuidado defensivo como na falta de criatividade dos dois ataques. O Palmeiras de Dudu e o Grêmio de Telê Santana completaram o segundo empate seguido a zero, na partida em que o lateral-direito Eurico não derrotou seu ex-clube mas também não deu chances para o ponta Nei levá-lo à vitória.
Mesmo atuando em casa, com sua torcida a incentivar, o Palmeiras começou cauteloso, guardando-se e prendendo a bola. O Grêmio, que precisava mais da vitória, tomou a iniciativa ofensiva, mas sem encontrar espaços para penetração.
Forçava principalmente pela esquerda, com o argentino Ortiz em cima, de Rosemiro, que gostava de avançar e além disso não é bom marcador. Logo nos primeiros lances o lateral mostrou que não estava bem, dando vantagem ao ponta. Pressionando por ali o time gaúcho preocupava a defesa palmeirense, perdendo uma, boa oportunidade para abrir a contagem aos 9 minutos. Num cruzamento para a área, Leão falhou e o centroavante Alcino furou na conclusão, aparecendo Ricardo para salvar antes da chegada de outro atacante gremista.
Ademir da Guia, peça mais importante do Palmeiras, não saia para levar sua equipe ao ataque como era de se esperar. Plantava-se do meio para trás e os companheiros o acompanhavam na cautela defensiva. A primeira tentativa visando o gol foi um chute de Toninho, em contra-golpe, virando bem a bola passando sobre as traves de Cejas.
Pouco depois Jorge Mendonça chutava também com perigo, rente ao poste direito de Cejas, e mais tarde Didi cobrava uma falta com malícia, assustando mais uma vez o arqueiro. Mas eram apenas tentativas esporádicas, que animavam a torcida mas não encorajavam o time a partir para um sistema mais ofensivo.
Jorge Mendonça e Toninho voltavam para acompanhar o recuo de Ademir, deixando tranquila a defesa do Grêmio, que era o time mais distribuído e organizado taticamente em campo. Só faltava seu ataque penetrar, o que se tornava difícil pela aglomeração da equipe de Dudu na retaguarda.
Esta resistência, que consistia em dar também maior cobertura a Rosemiro contra as jogadas individuais de Ortiz, foi aos poucos quebrando a disposição ofensiva do time gaúcho, tornando a partida equilibrada, presa no meio de campo, ao final do primeiro tempo.
Edu havia sentido uma fisgada na coxa, que prejudicou seu rendimento quando a equipe tentou algum lance pelo seu lado. Mesmo assim, acreditava-se que o Palmeiras tivesse guardado o fôlego e a coragem para a segunda fase. Foi o que realmente se viu no reinicio do jogo, logo ele esteve perto do gol por duas vezes.
Um ataque do Grêmio através de Zequinha, entretanto, exigiu a defesa de Leão e mostrou que a equipe do Parque Antártica não poderia se descuidar na retaguarda para não ser, surpreendido em contra-golpes. Invertendo-se a situação do primeiro tempo, o time gaúcho voltou armado na resistência, impedindo as jogadas de área por parte do Palmeiras que forçava.
O receio de Edu em forçar a perna e a necessidade de Rosemiro se prender atrás na marcação de Ortiz tornavam praticamente nulo o setor direito do time, enquanto do outro lado Eurico não dava chances a Nei e Zequinha ameaçava atacar nas costas de Ricardo se este saísse para apoiar.
Ademir da Guia soltou-se um pouco mais, porém sofria agora a firme vigilância do volante Vitor Hugo, que contava com o recuo de Alexandre no trabalho de destruição (depois de armar e forçar Didi a se fixar no campo de defesa em toda a primeira etapa). Com a retração também de Iura, o goleador gremista Alcino ficou isolado na, frente.
Dudu, para reforçar o ataque pelo meio, substituiu Toninho por Itamar, ao mesmo tempo em. que Telê mudava também o Grêmio, trocando Zequinha por Tarciso que se desloca melhor no ataque. Minutos após, o Palmeiras perdeu Samuel, contundido, entrando Jair Gonçalves na quarta-zaga e passando Arouca para central.
O técnico mandou sua equipe toda ao ataque no fim, mas foi inútil, A última grande oportunidade foi desperdiçada por Edu no último minuto, recebendo preciso passe de Jorge Mendonça e chutando para fora quando estava sozinho frente ao goleiro Celas.” (Folha de São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 1976)
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“DUDU GOSTOU, E TEM UM REFORÇO: PICOLÉ
Como sempre acontece nos resultados negativos da equipe, o Palmeiras só abriu o vestiário para a imprensa quando os jogadores já estavam saindo, apressados. Lá dentro, o presidente Paschoal Giuliano comentava que “o importante é não perdermos em nosso campo, acho que o empate foi bom para nós”, enquanto’ o técnico Dudu dava a mesma opinião e acrescentava elogios ao Grêmio:
“Sabíamos que seria um jogo difícil, por isso não entramos jogando num ritmo desenfreado, buscando logo o gol. Tentamos a vitória, mas sempre nos resguardando de uma surpresa, pois conhecemos a força do Grêmio. Além disso, o Palmeiras estava jogando bem, criando situações de perigo para o gol do Ceias, Só não marcamos por falta de sorte dos nossos atacantes.”
O lateral-direito Rosemiro, um dos poucos jogadores que ainda não haviam ido embora, culpou o campo do Parque Antártica pelo resultado e o mau futebol dos dois times: “O gramado não está bom e isso impediu um jogo mais clássico, Em várias oportunidades tivemos que dar chutões para a frente, pois não podíamos facilitar e tocar a bola tendo pela frente atacantes perigosos como o Ortiz, Alcino e outros.”
Antes da partida, por volta de 14h30, Giuliano e o diretor Nicola Racciopi apareceram no clube acompanhados do centroavante Picolé, revelação do Noroeste no último Campeonato Paulista. Os três estavam chegando de Bauru, onde o Palmeiras acabara de acertar a compra do atacante, que é a mais nova contratação do clube.
Como havia outros times interessados no jogador, a diretoria palmeirense, temendo perdê-lo, resolveu fazer uma proposta para a compra definitiva como o Noroeste exigia, pagando então 400 mil cruzeiros pelo passe. Picolé já assinou o contrato, em base não reveladas, e viajou depois para Bauru, mas hoje à tarde estará de volta. Dudu, que queria o centroavante inicialmente por empréstimo para testá-lo, dará a ele agora a chance de disputar a camisa titular com Toninho e Itamar.” (Folha de São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 1976)
Foto: Hipolito Pereira (Zero Hora)
“TELÊ E JOGADORES CULPARAM O GRAMADO
Embora reconhecendo que o empate foi um bom resultado para o Grêmio, seu técnico Telê Santana e os jogadores demonstraram revolta com o estado do gramado, apontando% como Principal adversário da equipe na partida.
“Procurei fazer o time jogar ofensivamente, tocando a bola rápido, mas esse campo é impossível praticar um bom futebol, Acho que deveria haver um protesto geral, dos clubes e da imprensa, contra a realização dos jogos em gramados que prejudicam o espetáculo e descontentam o público”, comentou Telê.
Mesmo assim, o treinador gostou da apresentação de sua equipe: “O Grêmio teve uma boa atuação, jogando um futebol ofensivo. Nossos jogadores correram, lutaram, procuraram o gol. Só não puderam produzir mais no aspecto técnico porque o campo não permitiu.”
Eurico, ex-Palmeiras, também saiu satisfeito com a produção do time gancho. Ele, que conhecia bem a equipe do Parque Antártica, disse que tinha medo do meio de campo adversário: “Todos sabem que o Ademir é o responsável por grande parte das jogadas do Palmeiras. Procuramos então marcá-lo em cima. Acho que conseguimos um excelente resultado.”
Para Alexandre Bueno, o Grémio não rendeu o que pode: “Nosso time melhorou bastante com a entrada do Telê, agora já temos uma série de Jogadas ensaiadas. Hoje elas só não funcionaram porque o estado do gramado não deixou. Era Milito difícil armar os lances, quando nós conseguias dominar a bola o adversário já estava por perto.”
A torcida estranhou a substituição do ponta Zequinha por Tarciso, quando quem atuava mal era o centroavante Alcino, Telê explicou a alteração, alegando que “mantive o Alcino como opção de jogo pelo alto, pois estava difícil chegar ao gol por baixo. O centroavante é um bom cabeceador. Infelizmente não deu certo, mas tínhamos que tentar.”
A delegação do Grêmio seguiu direto do Parque Antártica para o aeroporto, embarcando de volta a Porto Alegre.” (Folha de São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 1976)
TELÊ SANTANA: “O campo está em péssimo estado e o prejuízo não foi só do Grêmio, mas de todo o espetáculo. Desse jeito é difícil jogar. Mas no final, o empate foi um resultado razoável; todos preferíamos uma vitória, mas não há de ser nada, isso vai melhorar.”
TELÊ SANTANA: “O que eu gostei mesmo foi que o Grêmio não foi um time defensivo, ele atacou sempre, não dando folga para o Palmeiras. Essa é uma boa forma para se jogar.”
ORTIZ: “Esses caras vão lá no Sul e dizem que o campo é ruim. Então, o que dizer do campo deles? Não dava para dominar a bola, a grama é ruim e nem sei como é que as autoridades permitem realizar jogos de um campeonato importante nessas condições. ”
ORTIZ: “Jogamos bem e merecíamos melhor sorte. No jogo contra o Santos o empate foi justo, mas contra o Palmeiras tivemos mais presença. Se os gols não surgiram só pode ter sido pelo campo. Eles já estavam acostumados a jogar assim, nós não. Aí é que está a diferença. Para mim, o campo do Palmeiras é pior do que muitos campos do nosso campeonato regional.”
EDU: “Sei que é chato justificar o terreno, principalmente depois daquela bronca que demos lá em Caxias. Mas o homem que cuidava da grama faleceu.“
Foto: Hipolito Pereira (Zero Hora)
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Palmeiras 0x0 Grêmio
PALMEIRAS: Emerson Leão; Rosemiro, Samuel (Jair Gonçalves), Arouca e Ricardo Longhi; Didi e Ademir da Guia; Edu Bala, Jorge Mendonça, Toninho (Itamar) e Nei
Técnico: Dudu
GRÊMIO: Cejas; Eurico, Ancheta, Beto Fuscão e Bolívar; Vítor Hugo, Iúra e Alexandre Bueno; Zequinha (Tarciso), Alcino e Ortiz
Técnico: Telê Santana
Campeonato Brasileiro 1976 – 1ª Fase – Grupo A
Data: 19 de Setembro de 1976
Local: Parque Antártica, em São Paulo, SP
Público: 31.798 pagantes
Renda: Cr$ 690.070,00
Árbitro: José Roberto Wright (RJ)
Auxiliares: Nilson Cardoso Bilha e Márcio Campos Sales
Cartões Amarelos: Nei e Vítor Hugo