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Robertão 1968 – Grêmio 2×1 Bahia

November 3, 2023
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Foto: Correio do Povo

O 2×1 no Olímpico pelo Robertão de 1968 marcou a primeira vez que o Grêmio recebeu o Bahia em Porto Alegre.

Acho muito interessante ler e transcrever as matérias de outras épocas para ver de que maneira a imprensa esportiva reportava essas partidas. Confesso que a expressão “golo-vivo” era por mim desconhecida até encontrar essa crônica do Correio do Povo.

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Foto: Revista do Grêmio. Porto Alegre, n. 44, p. 16, 1968 – Fonte: Grêmiopédia

 

“GRÊMIO CONTINUA MARCHA COM 2×1 SÔBRE O BAHIA
Alcindo e Leal marcaram para os Gaúchos, Gagê descontou – Renda, NCr$ 41.219,00

O Grêmio conseguiu dobrar o Bahia de 2×1 e consolidar invencibilidade e posição de liderança no “Roberto Gomes Pedrosa”, Tudo num jogo bem movimentado, disputado sob impertinente chuvisqueiro e ante uma platéia que representou para as bilheterias do Olímpico mais de 40 mil cruzeiros novos. O novo sucesso do heptacampeão foi o de quem somou mais durante os’ 90 minutos e nasceu, já no primeiro período da luta, quando os gremistas souberam levar ao marcador uma superioridade indiscutível. Alcindo e o estreante Leal, de cabeça, em lances quase idênticos e oriundos de brilhantes manobras do ponteiro Flecha, fizeram os 2 x 0 dos 45 minutos iniciais. Os baianos diminuíram a vantagem na fase complementar, através de “golo-olímpico” marcado por Gagé. numa das poucas bolas que chegaram à meta de Alberto.

E como depois disso os tricolores não conseguiram manter o mesmo ritmo de jogo, o Bahia, no “trancão” de sempre, teve forças para resistir melhor a valorizar a vitória do adversário. que chegou ameaçar um triunfo com um escore bem mais folgado.

POUCO MUDOU — O Bahia não foi muito diferente daquele que empatou com o Internacional. É um time que com o forte na “retranca” e no jogo duro, em que pese desta feita seus jogadores andarem limitando à violência, embora Ailton, Itamar e o goleiro Edson dessem mais um — “trailer” de até onde podem chegar. Mas, o problema baiano era mesmo o de não sofrer tento e se possível marcar em contra-golpes. Desde cêdo o quadro de Paulo Amaral mostrava um super-congestionamento do meio de campo para trás e na frente somente Canhoteiro e Moraes. Era evidente que num panorama dêsse, o Grêmio só poderia comandar as ações e a incógnita ficava em saber como e quando os tricolores chegariam às redes do irrequieto Edson. O time de Sérgio Moacir manobrava com acerto e autoridade, buscando pelas extremas e sobretudo através de Flecha, a fórmula de romper o bloqueio do rival. E foi precisamente por intermédio do ponteiro direito, grande figura do cotejo, que o “hepta” abriu caminho para o triunfo.

Os 2 x 0 do primeiro tempo, sacramentados por Alcindo e Leal, que estreiou com saldo positivo, poderiam ser elevados sem qualquer exagero porque tanto no período inicial como depois, quando o domínio gremista, decresceu, as oportunidades surgiram. Uma de parte do próprio Leal e outra através de Paíca, para exemplificar, foram daquelas de “golo-vivo”. Enquanto isso, Alberto ficou numa bela intervenção em chute desferido por Canhoteiro e no tento de escanteio que sofreu. Isso diz bem do que foi o predomínio gremista.

OS TENTOS — Aos 25 min, Flecha fugiu pela direita, depois de bater Ailton, e cruzou forte até Alcindo, que num “testaço” não deu chances a Edson. Aos 38 min, acionado por Renato, Flecha repetiu a dose para cima de Ailton e o lançamento chegou certinho onde estava Leal, que também de cabeça acertou as redes baianas. Os visitantes descontaram aos 16 min do período final. Renato colocou a escanteio, Gagé cobrou da direita, e a trajetória da bola iludiu Alberto, que foi encoberto sem apelação.

OUTROS DETALHES — O Grêmio venceu com: Alberto; Renato, Ari, Áureo e Everaldo; Jadir e Paíca (Sérgio Lopes); Flecha, Leal, Alcindo (Volmir) e Loivo. O Bahia alinhou: Edson (Jurandir); Zé Oto, Jaime, Jaime e Ailton; Amorim e Eliseu; Okada (Gagé), Brigido. Morais e Canhoteiro. O baiano Jairo Camara foi outro árbitro que não agradou. Técnica e disciplinarmente, deixou muito a desejar. Expulsou Ailton aos 48 min e Flecha aos 80, mas o jogo poderia ter atingido clima mais perigoso por culpa de suas fraquezas. Normal a conduta dos auxiliares José Cavalheiro de Morais e João Carlos Ferrari. A renda somou NCr$ 41 210.00.” (Correio do Povo, terça-feira, 1º de outubro de 1968)

 

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Foto: Revista do Grêmio. Porto Alegre, n. 44, p. 16, 1968 – Fonte: Grêmiopédia

GRÊMIO JOGA CERTO, GANHA FÁCIL: 2X1

Com ótima conduta no primeiro tempo e com um trabalho razoável no segundo, o Grêmio venceu ao Bahia por 2 tentos a um, numa partida em que o marcador não espelhou o desenrolar das ações, mas que serviu para consolidar a situação dos tricolores na liderança da chave “b” do Robertão-68. Os dois “golaços” do Grêmio a atuação estupenda de Everaldo, o fino futebol de Paíca e o deslanche espetacular de Flecha, foram os destaques da partida, frente a um Bahia retrancado, lutador, mas desleal, muitas vezes. A vitória final, com inteira justiça, ficou com o melhor; com aquele que durante os 90 minutos, foi infinitamente superior quer tática quer fisicamente.

PANORAMA

O Grêmio manteve sua invencibilidade na chave e somou mais dois pontos positivos, através de uma jornada cheia de méritos e, principalmente, por jogar certo, isto é, por usar os homens certos para a execução do expediente de explorar o jogo pelas extremas, fato que determinou uma superioridade inconteste e absoluta a ponto de “pintar” uma goleada. O Grêmio foi sempre superior ao seu adversário. Isto se viu desde o início da partida, já que o treinador Paulo Amaral mandou seu time jogar na retranca, mantendo na frente apenas Canhoteiro e Morais, com o conseqüente recuo do setor direito para formar a “cortina” de 4 homens no meio de campo. Com isso prevaleceu a habilidade dos gremistas que, tranquilamente jogando um futebol racional, paulatinamente iam tornando conta das ações. A grande arma gremista foi o ponteiro Flecha numa tarde de estupenda inspiração. Jogando como deve jogar um ponteiro, driblando e procurando abrir para executar as centradas o ex-flamenguista foi um espetáculo à parte e responsável em grande parte pela construção do placar. A linha de zagueiros não teve grande trabalho. Mesmo assim, Renato e, notadamente Everaldo (que partidão), foram os melhores. Jadir foi o leão de sempre e Paíca, cada vez mais, confirma suas inatas qualidades de jogador cujo padrão técnico poderá mantê-lo como titular da equipe. Alcindo, fora de peso e Loivo, não muito lúcido, não chegaram a comprometer. Volmir e Sérgio Lopes, lançados quase ao final da partida, pouco puderam render.

O Bahia pouco mostrou de futebol. Afora o espírito de luta o tricampeão baiano caracterizou sua jornada pela deslealdade de alguns de seus integrantes, notadamente dos zagueiros Itamar e Ailton e do arqueiro Edson Borracha. Vendo que o Grêmio poderia “massacrá-lo” tamanha era a diferença de forças (futebolísticas). alguns jogadores resolveram apelar para o jogo desleal. O ponteiro Flecha foi a maior vítima. Passou o jogo todo levando “lenha” ora de Ailton ora de Itamar. O arqueiro Borracha a certa altura, deu um encontrão violentíssimo em Alcindo e, pelas costas, dentro da área, na altura da penalidade máxima desferiu um pontapé, só não quebrando a espinha do comandante gremista por milagre. Foi a mais escandalosa das penalidades máximas que vimos até hoje e que não foi marcada pelo árbitro baiano. Seu ataque inexistiu e no meio de campo apenas Amorim — um guerreiro, no bom sentido procurava fazer alguma coisa.

TENTOS

Aos 25 minutos Flecha avançou pela direita, driblou Ailton duas vezes e cruzou à meia altura para a “fogueira”. A bola encobriu o zagueiro e foi à cabeça de Alcindo que, violentamente mandou-a para as redes, marcando um grande gol: Grêmio 1×0.

Aos 38, Renato deu condição para Flecha apanhar a bola, tabelar com Leal, fugir para a ponta, novamente, driblar Ailton e repetir o lance do 1º gol. Só que desta vez  quem aparou a centrada e cabeceou para o arco foi Leal, cuja estréia foi auspiciosa, estabelecendo Grêmio 2×0.

Aos 61, Cagé, cobrando um escanteio cedido por Renato fez um gol “olímpico”: Grêmio 2×1.

DETALHES

Como anormalidades, as expulsões justas de Ailton (aos 43 minutos) e Flecha (aos 80) por jogadas desleais. Nisso andou certo o árbitro.

Dirigiu a partida Jairo Câmara, da FBF, com atuação muito fraca, deixando de coibir o jogo violento e incorrendo em erros de arbitragem horrorosos. Não se pode acusá-lo de desonesto; mas de incapaz. José Cavalheiro de Moraes e João Carlos Ferrari mantiveram uma conduta técnica elogiável pela precisão do trabalho.

A renda foi de NCr$ 41.219.00 e as equipes jogaram assim GREMIO – Alberto, Renato, Ari Hercilio, Áureo e Everaldo; Jadlr e Paíca (Sérgio Lores); Flecha, Alcindo (Volmir), Leal e Loivo. BAHIA — Edson Borracha (Jurandir): Zé Oto, Jaime, Itamar e Ailton; Amorim e Eliseu, Okada (Cagé), Brígido. Morais e Canhoteiro. Nós vimos assim Grêmio 2 x Bahia 1.” (Jesus Afonso, Diário de Notícias, terça-feira, 1º de outubro de 1968)

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GRÊMIO: Alberto; Renato, Ari Ercílio, Aúreo e Everaldo; Jadir e Paíca (Sergio Lopes); Flecha, Leal, Alcindo (Volmir) e Loivo.
Técnico: Sergio Moacir Torres

BAHIA: Edson (Jurandir); Zé Oto, Jaime, Itamar e Ailton; Amorim e Eliseu; Okada (Gajé), Moraes, Brigído e Canhoteiro
Técnico: Paulo Amaral

Data: 29 de outubro de 1968, domingo, 15h30min
Local: Olímpico, em Porto Alegre, RS
Público: 16.593
Renda: NCr$ 41.219,00
Juiz: Jairo Câmara
Auxiliares: João Carlos Ferrari e José Cavalheiro de Morais
Expulsões: Ailton e Flecha
Gols: Alcindo 25 do 1º, Leal 36 do 1º e Gajé, 16 do 2º 81′ (olímpico)